Contadora de histórias: uma profissão não muito conhecida, mas que tem muito a contar

A brasileira Clara Haddad conta como virou uma contadora de histórias com a agenda lotada em Portugal e fala de seu workshop que será ministrado em São Paulo ainda esse mês

É com entusiasmo e brilho nos olhos que Clara Haddad fala sobre sua profissão. Ela, que há 10 anos adotou Portugal como seu novo lar, está no Brasil até o fim de janeiro para participar de eventos, projetos sociais e ministrar oficinas. Aproveitamos a vinda dela para conhecer mais sobre a sua história e essa profissão que tanto nos trouxe curiosidade.

O interesse por histórias começou quando Clara ouvia aquelas que sua avó libanesa lhe contava.  Mais tarde, quando conheceu a profissão de Contador de Histórias ela diz ter se encantado por lembrar muito dos seus momentos com a avó. O que era só coisa de família acabou virando profissão e uma paixão.

Além de narradora profissional, Clara também é atriz e escritora. Ela explica que, diferente de uma peça de teatro, o espetáculo da Narração não tem um roteiro, assim como ela também não se faz de um personagem, ela não é uma atriz, e sim ela mesma, Clara Haddad. Além disso, o tempo de duração de um espetáculo pode variar por alguns fatores: “depende muito do público. Se eles estão gostando posso até aumentar o tempo da história, agora, se percebo que não estão curtindo, eu diminuo. Os contadores são como um barco e o público como o vento, conforme o vento, o barco pode ficar parado ou navegar”, explica.

Na busca por histórias, Clara procura a fonte fidedigna de cada uma, para que assim possa melhor absorver os relatos e transmiti-los ao seu público. Entre seu repertório estão relatos tradicionais brasileiros, portugueses, árabes, contos literários e muito mais.

Em meio a entrevista pode até não parecer, mas Clara revela que é tímida, e é exatamente no palco que ela esquece a timidez. A primeira vez que teve um público grande foi em uma palestra para professores, com 5 mil ouvintes. E suas apresentações não são apenas em palcos tradicionais e auditórios, ela já contou histórias em lugares bem inusitados como dentro de minas e até mesmo em um barco navegando em um rio na região Amazônica.

No Brasil

Desde 2012 Clara desenvolve o Projeto Social “Jovens Narradores – Descobrindo Novos Horizontes”, na escola municipal Professor Airton Arantes Ribeiro, na Zona Sul de SP, onde a irmã de Clara trabalha. Participam do projeto alunos da 5ª a 7ª série, que consiste em atividades extracurriculares através de oficinas de arte e literatura que acabam por proporcionar uma boa noção de geografia e culturas regionais para as crianças. Ela conta que cada ano tema abordado é diferente. No ano passado, por exemplo, o tema foi África e agora em 2016 será Cultura Lusófona.

Perguntamos à ela sobre a intenção de expandir o projeto para outras escolas do Brasil, mas ela disse que ainda precisaria de apoia no país – o que não falta em Portugal por conta do maior conhecimento e aceitação da profissão que ela desempenha.

Ida à Portugal

Quando trabalhava em uma produtora de teatro, Clara precisou ir à Lisboa (Portugal), para uma reunião. O que era uma passagem a trabalho, virou turismo à cidade de Porto e lá ela se encantou. “Os modelos das casas coloridas, lembram Olinda (PE). Eu falei para um amigo que me apresentava a cidade que queria morar lá. Eles falaram: ‘mas Clara não faz 10 minutos que você chegou!’, e eu respondi, pode anotar que daqui um ano eu estou morando aqui – e não deu outra”.

E Portugal a recebeu de braços abertos. Hoje ela tem uma escola de narração no país, a Escola de Narração Oral Itinerante, e é muito procurada na Europa para apresentar seus trabalhos e ministrar workshops. A agenda já está completa até o mês de setembro deste ano.

Os desafios da profissão

A profissão de contador de histórias é antiga, desde a Era Medieval, quando nos castelos, o narrador amenizava os medos e ajudava as pessoas a entenderem melhor o que se passava a sua volta, a enfrentar seus dilemas, extraindo das experiências o aprendizado mais profundo.

O contador de histórias não era um mero reprodutor de histórias, ele também gerava seus próprios relatos através daquilo que ouvia de seu público, como nos conta Clara, “um narrador de contos é muito mais do que um simples contador ou “repetidor” e histórias. Narradores Orais são portadores da palavra de uma longa tradição, que vem desde os tempos mais remotos. Para ser fiel a esta tradição é necessário muito empenho, dedicação, amor e constante renovação e inspiração”.

Para Clara, a experiência é amiga do Narrador Oral, quanto mais conhecimento ele possui, mais traquejos tem para lidar com o público e entender seus olhares. Com o tempo ele aprende técnicas para envolver o público e como contar uma história para cada faixa etária, por exemplo, contar uma história para crianças sobre bruxas sem amedrontá-las.

Contar e ouvir histórias agregam conhecimento e melhoram nossa comunicação. Clara lembra que essa profissão tão importante precisa ser regulamentada e dá a dica: “para ser um Narrador Oral de sucesso precisa ter iniciativa, dedicação e talento”.

E não para por aí, nos dias 30 e 31 de janeiro, Clara te convida para o curso “Storytelling- A Arte de Encantar com palavras”, no espaço Ilha da Lua, na rua João Caetano, 178 , Mooca , SP (próximo à estação BRESSER do metrô).

Para mais informações: escolanarracaobrasil@gmail.com ou (11) 98259 6166.

Post Author: E.T.C.

2 thoughts on “Contadora de histórias: uma profissão não muito conhecida, mas que tem muito a contar

    Ruy

    (5 de junho de 2017 - 17:00)

    Nossa incrível!!Nunca imaginei uma profissão assim, bem legal mesmo!

      E.T.C.

      (5 de junho de 2017 - 18:49)

      Também achamos, Ruy. E ficamos encantadas durante a entrevista conhecendo ela 🙂

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