Todos os detalhes sobre a história mais conhecida no Brasil que agora também ganha os palcos
Por Jaqueline Oliveira
Na última sexta-feira (22), fomos à coletiva de imprensa do espetáculo 2 Filhos de Francisco – O Musical, no Teatro Cetip. Para começar já adiantamos que existe uma desconstrução do modelo “certinho” de equipe de produção, o que acaba, consideravelmente, resultando em algo bem mais maduro do que se imagina, em especial daquilo que é baseado no cinema.
Um diretor que nunca fez teatro, um ator que não canta (Rodrigo Fregnan que interpreta Francisco), um musical que vai além do “fazer teatro”, com uma narrativa conhecida e que possui referências do filme da mesma história. Aspectos que para olhos desatentos podem ser caracterizados como negativos, mas se olharmos atentamente, vemos a necessidade de algo que vá além do normal, que ultrapasse limites e que com isso faça um trabalho muito bem feito. Conseguimos identificar isso nas três cenas que tivemos a possibilidade de assistir e se emocionar muito e que vamos falar mais para frente.
Sim, mesmo sabendo de toda a história, o impacto que foi conhecê-la no palco, com uma narrativa própria dele, com tudo o que ele proporciona, foi emocionante. É essa a palavra que talvez resuma todo este projeto: emoção. A trama já é emocionante por si só, agora com todos os elementos que o teatro permite, é de disparar o coração. E sim, teve momentos que foi necessário segurar o choro.
O diretor da peça, Breno Silveira, que também foi diretor no filme, evidenciou bastante esse feeling que é o emocionar. Para ele, esse é o diferencial e o principal do espetáculo, além da história ser nacional. “Faz tempo que não tinha trabalhado dessa forma. O teatro, principalmente no musical, possibilista trabalhar coisas que no filme não permite, então dá para viajar bastante, conseguimos trazer os personagens mais fortes”, comenta. Já para Renata Alvim, que é gerente geral de produção, Silveira conseguiu imprimir sua sensibilidade, como fez no cinema, agora nos palcos do teatro.
Quem fez?
Essa equipe de produção se resume à grandes nomes do mercado criativo. A direção fica à cargo de Breno Silveira, como dito, foi o diretor do filme da mesma história, é um prestigiado diretor de cinema, com longas como: Era uma vez… (selecionado para o Festival de Toronto) e Gonzaga – De Pai para Filho. O filme que baseia o espetáculo, 2 Filhos de Francisco, rendeu mais de 5,3 milhões de espectadores, considerado uma das maiores bilheterias nacionais e foi o representante brasileiro ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro.
O roteiro coube à Carolina Kotsho, que é autora e produtora de cinema e TV, também atuou como roteirista no longa 2 Filhos de Francisco e é contratada pela TV Globo desde 2011. A participação de Mariana Elisabetsky como colaboradora de texto teve total diferença. Ela que é roteirista dos programas de TV Mais Cultura, Quintal da Cultura e Grandes Chefs, também foi responsável pelas versões de Wicked e Cantando na Chuva, o que garantiu elogio de Renata, durante a coletiva. Ela disse que Elisabtsky “conhece o time do musical no teatro”.
Direção Musical, figurino e coreografia
Já a direção musical ficou como responsabilidade de Miguel Briamonte que é um compositor premiado e arranjador que também esteve envolvido em grandes espetáculos, como Cats, A Bela e a Fera, O Fantasma da Ópera, Peter Pan, Castelo Rá-Tim-Bum entre outros. Rachel Ripani, diretora associada, influenciou a produção com seu extenso currículo, e esteve de frente, junto às responsáveis, nos ensaios figurinísticos que tem grande importância ao retratar o universo caipira e por possuir muita representatividade. Agora o que ficou considerado na coletiva como “menos dançado e mais sensorial”, a coreografia e todo movimento em cena está nas mãos de Gabriel Malo e Marco Lima.
Personagens
Ok, Rodrigo Fregnan que interpreta Francisco não canta. Mas e daí? Essa foi a nossa conclusão ao entendermos a necessidade desse ator na peça. Como o próprio diretor disse, Fregan “possui uma luz própria que cativa e que se conecta certinho ao personagem”.
Já a intérprete de Helena, Laila Garin, que é a atriz convidada, evidenciou o papel feminino no sertão “eu tenho pensado muito nesse universo, tenho ouvido música caipira e tenho pensado nessas mulheres que trabalham pesado, lavam e passam”, acrescenta. Breno também comentou sobre a personagem, ao responder uma pergunta. Segundo ele, a Helena do teatro é bem mais forte que a Helena do cinema. Ele ainda diz que os dois personagens (Francisco e Helena) possuem cargos específicos na casa, Francisco é quem ouve o rádio e Helena é quem canta. “Ela é ainda muito afinado”, elogia.
Zezé e Luciano foram retratados por Beto Sargentelli e Bruno Fraga numa fase mais madura dos dois, já no auge da fama. Para eles foi “incrível trabalhar com esses nomes e foi gratificante poder compartilhar com os próprios músicos a alegria de interpretá-los, durantes os bastidores”.
O elenco infantil (Alex Novais, Bruno Barros, Marco Souzza, Pedro Miranda e Renatinho) também está impecável. Um detalhe é que a produção foi atrás de atores que já nasceram no sertão, em lugares que possuíam familiaridade com a vida dos cantores e que isso qualificou muito essa fase da história na peça.
2 Filhos de Francisco: Os três números exclusivos
1º – primeira vez
Esse ato foi no estilo introdutório. Conseguimos olhar bem para o cenário e para a montagem da cena. Mostra a primeira vez que Zezé Di Camargo (Mariosmar José de Camargo) sobe num palco e canta. Isso na festa de São João do vilarejo da pequena cidade de Pirenópolis, em Goiás.
2º – o canto na madrugada
Sabe aquilo sobre prender o choro, lá do começo do texto? Então, foi neste ato aqui. Eu, particularmente, amei esta cena. Ela começa num cenário que apresenta o amanhecer e mostra a casa simples onde eles moravam, só que de uma forma bem lúdica e que possui um grande valor ao realçar o rádio no molde da casa. Era como se um cômodo da casa, uma sala simples, estivesse dentro daqueles rádios antigos. O despertar da manhã é dado pelos galos que estão no chiqueiro, representado nas grades que são o fone do rádio gigante. Neste momento, a trama ganha um ar engraçado ao exibir a tão conhecida parte em que os meninos são obrigados a engolir ovos crus para cantar bem. No momento em que as crianças começam a cantar até o fim da música, embaladas pelas lágrimas do pai que as ouve, é emoção pura.
3º – eu não vou negar que sou louco por você…
Eu não vou negar que essa cena também foi incrível. Quer dizer, nem tem como negar. Aqui vimos a interpretação de Beto Sargentelli e Bruno Fraga, quando eles cantam essa música num show e seus pais entram no palco. Também é emoção pura. Além dos pais, todos os atores da peça sobem ao palco e cantam juntos.
A Time For Fun traz o musical que é anunciado pelo Ministério da Cultura, com patrocínio Uber e apoio Vivo. Esse é um daqueles espetáculos que a gente não pode perder. E você? Confira todos os detalhes da programação abaixo:
Serviço: 2 Filhos de Francisco – O Musical
Curta Temporada: De 05 de outubro a 17 de dezembro de 2017.
Local: Teatro Cetip – Rua dos Coropés, 88 – Pinheiros.
Horários: quintas e sextas, às 21h; sábados, às 17h e 21h; domingos, às 16h e 20h.
Duração: 120 minutos em dois atos (com intervalo de 15 min).
Classificação Etária: Livre.
Capacidade: 627 lugares.
Ingressos: a partir de R$ 25. Mais detalhes aqui.
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