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“As telefonistas” (Las chicas del cable) série espanhola da Netflix

As Telefonistas Las chicas del cable

Um dos passatempos dessa era – quiçá procrastinação também – é assistir séries e filmes do catálogo da Netflix. Quando o assunto são as produções originais do serviço de streaming então, entra toda uma outra gama de sentimentos. Por isso, escolhemos a série As Telefonistas que assistimos há pouco para resenhar aqui para vocês (e a resenha da segunda temporada também já está aqui).

A série começa em 1928, apresentando a personagem principal Alba (interpretada por Blanca Suárez), que depois acaba tendo que pegar o nome de Lídia Aguilar para roubar o posto de trabalho de uma das candidatas à telefonista em empresa de Madri, na Espanha.

Ao passar dos 8 episódios da série, podemos ver alguns embates da empresa e de seus personagens. Como quando a companhia começa a tentar implantar uma máquina que permitiria a ligação direta, sem a necessidade de intermediário de telefonistas; a preocupação das mulheres que tinham esse posto na empresa e que poderiam perder seus trabalhos que eram vistos por elas como uma declaração de independência; e, ainda, Alba tentando não ser pega em seu mar de mentiras (bem intencionadas, na maioria das vezes), enquanto lidava com seu amor do passado e diretor da empresa, Francisco (Yon González), e o filho do dono da companhia, Carlos (Martiño Rivas), por quem começou a criar afeições.

https://www.youtube.com/watch?v=vtJ72tZ9H6A

Feminismo

Uma das coisas que marca a narrativa, é mostrar fatores com os quais as mulheres tinham que lidar para conseguir pequenas coisas e direitos. Tais como, o preconceito de que mulheres não saberiam como votar em bons candidatos se a elas lhes fossem dadas o direito ao voto (mencionado em um dos diálogos logo nos primeiros episódios), a luta das mulheres para conseguirem trabalhar fora de casa e muito mais.

Uma das personagens, Ángeles, interpretada por Maggie Civantos, sofreu aborto após o marido espancá-la pois ela não queria largar o emprego que tinha na empresa de telefonia – e pelo qual ela era muito reconhecida e adorada por chefes e supervisores.

Outra que sofreu para trabalhar foi a Carlota (Ana Fernández), cujo pai – policial, rico e muito influente na cidade – não queria que sua filha trabalhasse por achar que não era coisa de mulher “digna” e a expulsou de casa após ela continuar na empresa.

Além disso, há abusos de policias que prendiam mulheres que começaram os movimentos a favor de seus próprios direitos e a lei que estava sempre do lado do homem independente do que acontecesse, onde, até mesmo, um saque no banco requeria a assinatura e consentimento de seu marido.

Críticas

Apesar de abordar muitas coisas bacanas, como o início das mulheres trabalhando fora de casa, os problemas das mulheres em conseguir independência para assuntos banais, a série possui alguns pontos que acabam deixando a narrativa um pouco cansativa. Um deles é a necessidade de Alba, personagem principal, estar sempre mentindo e enganando as pessoas que ela mais gosta e que fazem parte de sua vida. Esse caminho sem fim acaba nos lembrando uma novela em que as coisas nunca podem ser normais. Ainda que torcemos por ela, acabamos ficando um pouco cansadas de ter que levar suas mentiras, que algumas vezes não possuem muito sustento, para frente.

Algo que me agrada na série é a trilha sonora que se destaca completamente da época em que ela se passa. As músicas são muito mais atuais, o que para alguns pode ser um ponto ruim para a construção da narrativa, mas que me chama atenção exatamente por ser proposital e fora do comum.

Outra coisa é como os relacionamentos diversos são retratados na série. Há mulher descobrindo-se bissexual, relacionamento de poliamor, casamento abusivo, descoberta de um amor aos poucos, amizades fortes e muito mais. Tudo isso acaba com que nos apeguemos também as personagens secundárias, amigas de Alba, que muitas vezes acabam virando nossas favoritas ao longo dos episódios. (Carlota, te amamos!).

No mais, recomendo a série em termos de entretenimento com pitadas de história das mulheres. É bacana podermos ver o quanto a sociedade ocidental mudou e, ainda, analisar as coisas que continuam praticamente as mesmas após décadas de quando se a série se passa. Pois, mesmo lidando com a ficção dos personagens, sabemos que aquela era a realidade de muitas mulheres.

A boa notícia é que a série foi renovada para mais duas temporadas. Então, você não precisa se preocupar de assistir e ficar sem respostas.

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