Em 2010 tivemos uma grata surpresa com a versão live-action de Alice no País das Maravilhas, dirigido por Tim Burton, em que visitamos de maneira única o mundo fantástico contado através de décadas por literaturas e animações da Disney. 4 anos depois, recebemos mais uma versão, agora recontando a história da Bela Adormecida, através do ponto de vista da Vilã. Malévola ganhava as telas e mais uma vez o sucesso foi certeiro.
Esses sucessos de crítica e público despertou na empresa do Mickey um olhar para a oportunidade que se abriu que era dar uma nova “roupagem”, através de versões de pessoas reais, as animações clássicas e de grande sucesso do passado do catálogo da empresa. Assim nasceram em sequência os live-action Cinderela (2015), Mogli: O Menino Lobo (2016) e A Bela e a Fera (2016). Esses 3 sendo o auge do projeto iniciado em 2010.
Porém, neste meio tempo tivemos a continuação de Alice no País das Maravilhas, intitulado Alice Através do Espelho (2016), em que em meio a toda polêmica envolvendo Johnny Depp não atraiu o público e foi o primeiro fracasso do projeto.
O que era para ser uma mina de ouro de crítica e público acabou se tornando filmes esquecíveis e bem “mais do mesmo”, longe do que foi os clássicos adaptados.
Foram lançados em sequência: Christopher Robin – Um Reencontro Inesquecível (2018), Dumbo (2019), Aladdin (2019), o Rei Leão (2019), Malévola: A Dona do Mal (2019) e A Dama e o Vagabundo (2019). E, agora em 2020 a Disney anuncia a versão live-action da animação Mulan (confira nossa opinião sobre a animação de 1998 aqui), dirigido por Niki Caro, com a expectativa de recuperar o sucesso do início de projeto.
MAS, O QUE ACHAMOS?
Ao ser anunciado que não haveria as canções clássicas e o dragão Mushu, a Disney decretou que o remake seria bem mais uma releitura da obra de 1998 do que uma versão fiel a animação, pois na época em que foi lançada, a animação recebeu duras críticas ao retratar o dragão como um alivio cômico, sendo que na China os dragões são sagrados, e por isso era necessário tomar cuidado ao demonstrar agora na versão live-action os costumes do local e da época.
O filme inicia já demostrando que a personagem título não é uma mulher que não se encaixa na sociedade em que vive, mas que aparenta ser a escolhida e que há nela uma habilidade fora do comum. Trocou-se a força e superação pelo destino. O que na animação é bastante presente que é mulher diante de um mundo machista e opressor que precisa se superar e ter força de vontade, aqui vemos um roteiro que busca enfatizar Mulan como uma escolhida em que suas habilidades e escolher percorrem bem mais por causa de seu nascimento do que pela superação e força.
Pelo fato da personagem apresentar ser diferente dos demais, não sentimos que ela corre perigo em nenhum momento, pois o filme quer enfatizar que ela é a escolhida e seu dilema de superação e aceitação colocado brilhantemente na animação é substituído pelo dilema de assumir a força que tem desde criança.
O carisma e torcida que a protagonista tem na animação é retratado bem vagamente pela atriz Yifei Liu que aparenta gostar da personagem, mas não consegue se desamarrar do roteiro básico. Outro ponto a destacar é a direção que parece se esforçar em homenagear os filmes de ação clássicos asiáticos (O Tigre e o Dragão, por exemplo) e a animação, citando brevemente as músicas clássicas como parte instrumental em momentos pontuais, mas peca por nadar no raso e não se aprofundar em arriscar demais.
Por buscar abraçar várias maneiras de recontar a história, Mulan é só mais um live-action esquecível que teria tudo para ser uma obra cinematográfica importante ao falar de aceitação feminina e força das mulheres no mundo, mas não inicia a discussão que a animação de 1998 consegue com maestria, o que torna a obra que este filme se baseia bem mais atual. Mulan de 2020 é o sinal vermelho para a Disney repensar o projeto iniciado em 2010.