“E se um demônio lhe dissesse que esta vida da forma como vive e viveu no passado você teria de vivê-la de novo. Porém inúmeras vezes mais e não haverá nada novo nela. Cada dor, cada alegria, cada coisa minúscula ou grandiosa retornaria para você mesmo. A mesma sucessão, a mesma sequência, várias e várias vezes como uma ampulheta do tempo. Imagine o infinito! Considere a possibilidade de que cada ato que você escolher, você escolherá para sempre! Então toda vida não vivida permaneceria dentro de você! Não vivida… por toda a eternidade…Gosta desta idéia? Ou detesta?” Friedrich Nietzsche.
Normalmente dá pra sacar qual será a trajetória de uma série só de assistir os primeiros capítulos. Bem, essa regra não se aplica a Forever, drama da Amazon Prime criado por Matt Hubbard e Alan Yang. Na trama, estrelada por Maya Rudolph e Fred Armisen, somos apresentados à história do casal Oscar e June, juntos e felizes há mais de 20 anos. Entretanto, como em qualquer relacionamento que dura há muito tempo, podemos perceber algumas rachaduras estruturais que podem levar o casal a uma possível crise num futuro não tão distante – e enquanto esperamos essa crise acontecer, somos presenteados com um susto já no final do primeiro episódio.
Vem o segundo episódio, e em seu decorrer percebemos que o show não vai seguir o caminho esperado pelo primeiro episódio, e em meia hora o show parece tomar um rumo diferente. Vem, então, o segundo choque, e a série novamente dá um giro que aparentemente nos leva para o ponto de partida. Pode parecer confuso, mas na verdade é maravilhoso perceber que ainda existem roteiristas capazes de nos surpreenderem com roteiros originais capazes de levar a reflexões interessantes.
Forever: entenda um pouco da primeira temporada [contém com alguns spoilers]
Se Nietzsche estivesse vivo, iria atrás de Yang e Hubbard para lhes dar um abraço agradecido: a série é um exemplo perfeito da teoria do filósofo sobre o eterno retorno. Já pensou se, na verdade, a vida após a morte consistir em você seguir exatamente da forma como existia na terra, sem poder mudar um único móvel de lugar, por toda eternidade? Isso representaria uma fonte de alegria ou de desespero?
Em Forever, somos contemplados com essa perspectiva, o que inevitavelmente nos leva a pensar sobre como nos sentiríamos se fossemos colocados nessa posição. Basicamente é o show que te faz querer sair do trabalho, comprar uma passagem e sair pelo mundo, para não acabar como os personagens principais. Ao mesmo tempo, a relação dos personagens principais acaba sendo bonita de se contemplar, e a sinergia de June e Oscar traz uma ideia muito bonita sobre amor, conflitos e a passagem do tempo.