Em cartaz na Galeria Bolsa de Arte, a exposição O Sol da Noite, a primeira individual da trajetória de Alexandre Wagner. Com uma atmosfera soturna e onírica a mostra exibe cerca de 15 pinturas a óleo realizadas desde o ano passado também em grandes formatos, uma novidade na produção do artista.
Existe no trabalho de Alexandre Wagner um som que é quase um rumor. Suas pinturas são permeadas por esse vento sutil que ergue de leve os tecidos das bandeiras, que inclina estacas e mastros, que faz as águas e as copas das árvores tremularem devagar.
A diluição da tinta a óleo com as marcas do escorrimento pela tela imprimem um tom indefinido ao universo do pintor. À primeira vista, suas paisagens parecem aludir às cenas de Oswaldo Goeldi (1895-1961). Ao contrário deste, porém, a volatilidade das formas não definidas pelo contorno preto comum à xilogravura, caso de Goeldi, emprestam à ambientação de Wagner um caráter fugidio, fantasmal, ao contrário da crônica urbana obscura do gravurista.
Paradoxalmente, o vigor de pinceladas firmes, perceptíveis através da tinta mais rala, criam sobreposições de planos e fragmentação nas figuras mesmo onde o pigmento não escorreu. A espectralidade das transparências e junções entre camadas cromáticas sugere materialidade até onde a pintura é diluída.
Nesse sentido, a instabilidade formal das cenas retratadas, que parecem sair antes de um sonho que de algum logradouro existente de fato, expressa a impossibilidade da representação definitiva e absoluta, inserindo o trabalho de Alexandre Wagner numa linhagem extremamente atual da pintura.
Em alguns momentos, a concisão do plano pictórico leva a representação figurativa ao limite da abstração. Em outros, a economia compositiva é expressa na geometrização das peças com que se constroi a paisagem, reduzida ao mínimo de sua caracterização.
Em momento algum o aumento de espaço se traduz em excesso de formas no jogo entre plano e figura. Todos os quadros, mesmo os que trazem elementos figurativos mais detalhados, como O Pântano (2018), são cuidadosamente estruturados num equilíbrio entre plano e contraplano, entre a figura e sua cisão – ou simplesmente ausência.
No processo de conferir tanta importância ao vazio quanto ao representado, Alexandre Wagner encontra a força de sua pintura, dissolvendo a certeza do olhar na ambiência de um sonho difuso. Como um Sol obscuro que, surgido em meio à noite, fulgurasse em negativo.
O público pode conferir a exposição até o dia 30/06/2018.
Serviço: O Sol da Noite – Alexandre Wagner
Onde? Galeria Bolsa de Arte
Endereço: Rua Mourato Coelho, 790, Vila Madalena – SP
Horário de visitação: segunda a sexta, das 10h às 19h; sábados, das 11h às 17h
Maiores informações no Site.
Entrada Gratuita
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