Banda de Viking Metal fará sua primeira turnê em solo tupiniquim a partir do dia 30/05
Como já havíamos jogado na roda aqui , a Metsatöll, banda de metal estoniana, já chegou para as apresentações da Odin’s Krieger Fest, que rola entre os dias 30 de maio e 3 de junho em Porto Alegre, Curitiba e São Paulo!
Assim, batemos um papo com a galera da banda para falar sobre a percepção deles do Brasil. O cenário musical e, é claro, feiras medievais! Confira:
ETC: é a primeira vez de vocês no Brasil, certo? O que vocês têm achado do país? Há grupos nacionais de metal nas playlists de vocês?
Lauri Varulven” Õunapuu (vocais, guitarra, flauta, torupill – gaita-de-fole estoniana, kannel e outros instrumentos tradicionais): Ahoi! Saudações, e muito obrigado pela oportunidade de conversarmos! De fato, a Metsatöll nunca havia tocado no Brasil. Há algum tempo temos vontade de vir, e a oportunidade disso acontecer veio através da Odin’s Krieger Fest, então palmas para a organização do festival!
Bom, o que nós achamos do Brasil? Como a maior parte do mundo, sabemos que o Brasil oferece todo um universo de possibilidades, é a terra do melhor café, das favelas, da Amazônia, das florestas tropicais e todos os seus segredos, a terra da salsa e da depilação à brasileira. Ah, é também a terra do Trash Metal, é claro! Admito que pessoalmente não conheço muito da música brasileira. Conheço, obviamente, Sepultura e Tuatha de Danann (banda mineira de folk metal), e lembro de alguns outros artistas, como Consuelo de Paula, Sivuca, Noel Rosa…e tinha uma música que começava com algo tipo “Pelo telefone….”
Markus “Rabapagan” Teeäär (vocais e guitarra): A banda mais popular de que eu gosto é Sepultura. Quando Max estava na formação, ela estava no meu Top 5 de bandas. Como eu nunca estive no Brasil antes não sei muito bem o que pensar, mas estou bastante animado!
ETC: Ao escutar singles de vocês como Vimm e Küu , me vieram à cabeça algumas músicas de bandas de metal industrial como Rammstein, Pain e Ommph. Vocês acham que esse estilo influenciou o som de vocês de alguma forma?
Markus: Eu escuto Rammstein e gosto bastante de Ommph, então se você sentir algumas influências na forma como eu toco, provavelmente é verdade! Entretanto, pessoalmente, não acho que essas bandas tenham nos influenciado no sentido de ir em determinada direção, musicalmente falando. Preferimos manter nosso estilo e nossas músicas o mais autênticas possível, especialmente quando se trata do uso de instrumentos tradicionais.
Lauri: A influência e a inspiração para a essência da música são questões difíceis – claro, somos influenciados pela música que escutamos e que temos escutado, mas, levados em conta a multiplicidade de estilos e arranjos, só um mágico consegue definir exatamente como tudo se encaixa. Acho que a Metsatöll é influenciada principalmente pela vida, a história e a cultura da Estônia. As outras partes que compõem o nosso som vêm da subcultura do metal Old School, na qual estamos profundamente entrelaçados!
E.T.C. Depois da rodada de shows no Brasil vocês vão para o festival Zobens und Lemess 2018, na Letônia. Qual a opinião de vocês sobre a cena do metal na Europa Oriental atualmente? Vocês acreditam que a internet colabora para esse tipo de disseminação de forma positiva?
Markus: A cena do metal é bem pequena nos países bálticos, e de fato sem a internet não estaríamos vindo ao Brasil!
Lauri: Olhando para o Leste Europeu do ponto de vista do Norte da Europa, penso que de fato há poucas bandas da Europa Oriental que conseguiram ultrapassar a barreira pós-soviética para uma audiência mais ampla. Olhando de dentro, entretanto, pode acreditar que existe um grande contingente de músicos excelentes que tocam metal. Entretanto, a grande maioria deles não busca a música como uma opção de carreira em tempo integral – como acontece em todo lugar, creio, é ótimo tocar sua música apenas como diversão. Temos muita sorte de ter tido pessoas que ajudaram a Metsatöll a ser levada a sério, sair em turnês e tocar para ouvidos que precisam do nosso som arcaico-folk-trash-metal e da filosofia de nossa terra. Talvez.
Talvez no cenário europeu do metal hoje, a necessidade por rebelião e oposição esteja se desvalorizando, à medida em que estamos navegando mais e mais em direção à costa de uma sociedade imaginária de felicidade, onde avandonamos nossas culturas e aceitamos com alegria uma pseudo-cultura de supermercado.
O fogo, entretanto, segue queimando forte nas cinzas, e eu preciso te falar, o Metsatöll não aceita isso. Seguimos lutando por estonianos e pela Estônia dos velhos tempos!
A Internet é uma cobra sorrateira!
ETC: O Tema Medieval está crescendo atualmente no Brasil, hoje temos bares, festivais e feiras com esse tema rolando em todo país no decorrer do ano. Vocês enxergam essa tendência florescendo em outros países também, ou é algo que já existia há tempos antes e só chegou aqui agora?
Lauri: A necessidade de encontrar raízes e preservar antigas tradições sempre foi uma âncora em todas as culturas. Respondo um pequeno pedaço de uma grande questão: Por quê? A nostalgia dos anos dourados é profundamente arraigada no ser humano. Essa é a espinha central de todas as culturas, e é graças a isso que ainda existimos enquanto raça. Algumas das tribos nas florestas tropicais, por exemplo, bem como imigrantes que vieram depois, todos estão fazendo a mesma coisa, sobreviver e, inconscientemente, ser como seus ancestrais eram. Para honrá-los e justificar suas conquistas e tradições.
Há também aquela parcela da população que busca copiar outras culturas, com objetivo consciente ou não de se tornar outra coisa, pessoas querendo ser outras. De qualquer forma, o intuito é o mesmo, garantir a sobrevivência da espécie – já que você não consegue garantir a continuidade da raça humana com a sua avó (rs), precisamos de variedade para continuarmos enquanto humanos.
Assim, se essa tendência de glorificação se dá com o propósito de resgate ou de transformação em outra coisa, deixo a seu critério, mas é fato que a era medieval foi bastante diferente em diversas partes do mundo – Paquistão, Taiwan, Suécia, Letônia, Portugal ou na cultura Tupinambá.
Em suma, Romantismo na música tradicional, ou a necessidade de criar uma música “old style” é algo que não envelhece, bem como a necessidade básica de “conhecer suas raízes”, em resposta à questão “quem sou eu?”. São temas universais, e no caso do Brasil acho que pode se tratar também de um contra-ataque à globalização e à falta de raízes que isso representa.
Em síntese, nesse contexto, a música folk se coloca como uma boia salva-vidas para a cultura tradicional! Eu, pessoalmente, acho que a Metsatöll não se enquatra no Folk Metal moderno. A necessidade inconsciente – de ser estoniano, de seguir nossa própria cultura, canções, melodias, tradições e filosofia superam essa classificação. Ser o mais “pé no chão” possível, arar seu próprio campo, fazer o seu próprio pão e cerveja, construir a sua própria sauna tradicional de madeira e terminar cantando as canções dos seus antepassados, tocando instrumentos musicais antigos e contando tudo sobre isso em terras estrangeiras. Como o Brasil.
1 thought on “AHOI! Entrevistamos os caras da Metsatöll”
Consuelo de Paula
(15 de junho de 2018 - 11:02)Que alegria ser citada por eles entre os poucos nomes que eles têm de referência de música brasileira! Abraço grande!