A História Natural e Outras Ruínas na Galeria Vermelho
Bruna de Oliveira
Em A História Natural e Outras Ruínas, em cartaz na Galeria Vermelho, Marcelo Moscheta observa as transformações na paisagem natural, sejam feitas pelo homem, por ele mesmo enquanto agente, ou por processos naturais de erosão e sedimentação. O artista apresenta obras realizadas em diferentes técnicas que dão à essas metamorfoses caráter monumental ou iconográfico. Ao justapor de maneira proporcional o homem e a natureza como motivadores dessas transformações, ele humaniza a natureza, aproximando-a de um espírito personalizado.
A série que dá título à exposição, A História Natural e Outras Ruínas, 2018, é composta por fragmentos de uma enciclopédia dos anos 1970 que narra a formação da terra e o desenvolvimento da vida no planeta. Nomeados como capítulos, os trabalhos se organizam em composições de partes da enciclopédia com fotografias em fotolitos de uma indústria mineradora e chapas de aço oxidado, cuja textura lembra aquela das paisagens de montanhas de brita da mineradora.
Na sala principal da galeria, dois processos se opõem: no chão, a obra Melancholia, 2018, se organiza como uma série de meteoritos fundidos em bronze que tomam o espaço, como se houvesse havido ali uma tormenta aonde detritos tivessem se partido na entrada da atmosfera, se espalhando e tomando conta do espaço.
Na parede, A Grande Árvore, 2014/ 2018, é um desenho de grandes proporções que representa um tronco de um Cedro Vermelho em escala real. O desenho foi fracionado em partes emolduradas em madeira e teve partes de sua estrutura substituídas por chapas dessa mesma madeira processada.
Vemos aí, diferentes momentos do processo de industrialização da natureza representados: a árvore, sua compartimentação e seu processamento para uso pela indústria, pela construção civil e pela arte. O trabalho em si repete esse movimento de processamentos. O desenho original foi feito para a Bienal de Vancouver, no Canadá, em 2014. Moscheta submete sua própria obra, ou criação, ao desígnio do progresso.
A mesma mineradora aparece na primeira experiência de Moscheta com uma vídeo instalação, O engenho do mundo. Em uma sala negra, dois monitores exibem imagens dessa fricção entre os processos humanos e naturais. Em um deles, a mineradora e todos os seus processos de extração e produção de brita. No outro, um gêiser no deserto do Atacama mostra a produção de gases sendo expelida da terra. Os dois monitores são arranjados de tal maneira que os dois processos parecem sem completar, se opor e convergir um no outro.
O público pode visitar a mostra na Galeria Vermelho até o dia 23/06/2018.
Serviço: Galeria Vermelho
Marcelo Moscheta: A História Natural e Outras Ruínas
Endereço: Rua Minas Gerais, 350, São Paulo.
Visitação: Deterça a sexta, 10h-19h; sábado, 10h-17h