O Festival de Cannes é um dos mais importantes festivais de cinema do mundo e seu tapete vermelho não é incomum ver protestos. O mais recente aconteceu na última quarta-feira (16) pela equipe e elenco de Chuva é Cantoria na Aldeia dos Mortos, coprodução luso-brasileira comandada pela brasileira Renée Nader Messora e o português João Salaviza. A reivindicação pela demarcação das terras indígenas e o fim do descaso do governo com o genocídio dos povos indígena nas mãos dos pecuaristas entra na pauta do próprio filme, que mostra os costumes da tribo Krahô e as dificuldades enfrentadas por eles ao bater de frente com políticos e fazendeiros locais.
Mesmo com seus direitos garantidos pela Constituição Federal de 1988 (incluindo preservação de costumes e demarcação de terras, além dos demais garantidos ao restante da população), os povos indígenas brasileiros continuam sofrendo violência sistemática por grupos de pecuaristas e demais setores da agroindústria, que contam com um forte lobby político em Brasília. Trinta anos após a criação do texto, nenhum governo cumpriu as promessas de uma mediação eficaz entre os dois lados e as frequentes disputas costumam terminar em expulsão e/ou homicídio dos indígenas.
Exibido como parte da mostra Um Outro Olhar, o filme não participa da competição oficial, mas foi elogiado pela audiência do festival. Já o protesto traz à memória aquele feito pela equipe (também brasileira) de Aquarius dois anos atrás, contra o impeachment da ex-presidenta Dilma Rousseff. Antes dos brasileiros, o festival já havia sido palco de dois protestos este ano: o primeiro contou com 82 mulheres de Hollywood reivindicando maior participação feminina na indústria; em seguida foi a vez de 16 atrizes negras pedirem por menos racismo e mais igualdade no cinema. Em sua 71ª edição, o Festival de Cannes termina neste sábado (19) com a entrega dos prêmios e a exibição de The Man Who Killed Don Quixote, aguardado longa de Terry Gilliam.