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Novo de Alex Garland, ficção-científica Aniquilação foge do lugar-comum e das respostas fáceis

Aniquilação

Um dos filmes mais esperados do ano pelos fãs de ficção-científica, Aniquilação chegou à Netflix na última segunda-feira (12). Baseado no livro homônimo de Jeff Vandermeer, o filme marca o segundo esforço na direção do britânico Alex Garland após o sucesso inesperado de Ex_Machina, e consolida o diretor como uma das vozes mais importantes do gênero atualmente.

Com uma história de difícil assimilação e que não entrega respostas prontas, Aniquilação acompanha Natalie Portman como Lena, uma bióloga cujo marido soldado desapareceu em missão há um ano. Quando Kane (Oscar Isaac) retorna sem aviso, distante e doente, Lena decide participar de uma missão secreta junto a um time de cinco cientistas designadas para desbravar O Brilho, um fenômeno desconhecido que vem se espalhando pela costa americana após a queda de um asteroide há três anos. Uma vez lá dentro, a equipe se depara com um bioma cheio de mutações que desafiam a lógica humana.

Como toda boa ficção-científica, Garland constrói uma narrativa que usa o desconhecido e sobrenatural para explorar temas essencialmente humanos, em particular a nossa inclinação para a autodestruição. Lena e suas colegas embarcam numa missão quase suicida e o filme abraça outros nichos do sci-fi, em especial o terror cósmico de H.P. Lovecraft e o body horror de Cronenberg, para contar uma história desconcertante e que não foge ao mostrar tanto a beleza quanto a feiura de seu mundo de perto. A atmosfera do longa é fria, inquietante e perturbadora, contrastando com o lindo cenário do Brilho (a própria Lena chega a comentar esta dicotomia numa cena).

O Brilho, aliás, se espalha como um câncer, temática que se repete durante o filme inteiro com diversas cenas mostrando uma divisão celular, área de especialidade da protagonista. As constantes mutações presenciadas pelas cientistas levantam a questão da evolução: nós humanos, estamos em constante modificação (tanto em nível biológico quanto psicológico) mas costumamos temer mudanças, embora estas não sejam necessariamente ruins, apenas nos levam a lugares diferentes.

É curioso que o roteiro (que passeia por três linhas temporais, contado uma história fragmentada) revele logo nos primeiros minutos quem sobrevive ou não à missão, mostrando que o importante aqui não é o destino das personagens, e sim a jornada. Aniquilação é puramente metafórico, e constrói camadas de alegorias que serão interpretadas de maneiras diferentes por cada espectador, com um terceiro ato que promete ser objeto de debate por muito tempo.

Um ponto interessante do filme é seu elenco, formado inteiramente por mulheres ou artistas não-brancos. Além de Portman e Isaacs, a equipe que acompanha Lena no Brilho é formada pelas cientistas Dra. Ventress (Jennifer Jason Leigh), Anya Thorensen (Gina Rodriguez), Josie Radek (Tessa Thompson), e Tuva Novotny (Cass Sheppard), e os outros dois personagens homens, Daniel e Lomax, são interpretados por David Gyasi e Benedict Wong (um negro e um asiático, respectivamente). Junta-se isso a complexidade do roteiro e é fácil perceber por que a Paramount decidiu não levar o filme aos cinemas internacionais, principalmente após o fracasso financeiro de Mãe! (outro filme de difícil digestão) no ano passado.

Infelizmente quem sai perdendo é o espectador, que deixa de aproveitar inteiramente a experiência de assistir nas telonas um filme claramente feito para a experiência cinematográfica. O design de cenários e a fotografia (com planos e enquadramentos que só podem ser completamente aproveitados numa tela de cinema) criam um mundo belo e assustador, em uma mistura biológica que torna o ambiente do Brilho familiar e desconhecido ao mesmo tempo. A trilha sonora e edição de som da dupla Geoff Barrow e Ben Salisbury são um espetáculo à parte, servindo perfeitamente para dar o clima de tensão e perigo iminente necessário a narrativa.

Apesar de todos os seus acertos, Aniquilação peca ao deixar furos narrativos que atrapalham a compreensão total do filme e sabotam a ótima visão do diretor. Cuidadosamente construída, a atmosfera de frieza e distanciamento serve seu propósito narrativo (a natureza em constante evolução é, afinal, fria), porém impede o desenvolvimento de uma maior empatia em relação as personagens, e pode resultar em uma indesejada indiferença da plateia.

A impressão final é que vimos um ótimo filme, visual e sonoramente incrível e com uma história deliciosamente desafiadora, mas que não consegue alcançar todo o seu potencial. Mesmo assim, Aniquilação é um filme que merece ser visto e que deixa sua marca na mente do espectador, com temas e cenas memoráveis.

Nota: 3,7/5

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