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‘Mudbound’ faz por merecer suas indicações ao Oscar 2018

‘Mudbound – Lágrimas sobre o Mississipi’ é mais um dos ótimos dramas sobre questões raciais nos EUA (e no mundo, por que não?) dos últimos anos. Porém, ele não é “só mais um” e diversos detalhes de sua produção o destacam como um filme que marca seu tempo. Escrito e dirigido por Dee Rees, uma mulher negra com mais de 40 anos que tem poucos títulos expressivos em sua carreira; sua diretora de fotografia (Rachel Morrison) é a primeira mulher a receber uma indicação na categoria Melhor Fotografia do Oscar; e o filme também marca a primeira obra ficcional distribuída pela Netflix que concorre ao Oscar (no Brasil, porém, a distribuição fica por conta da Diamond Films, que também produziu ‘Moonlight’).

A obra concorre em 4 categorias no Oscar 2018 (Fotografia, Roteiro Adaptado, Atriz Coadjuvante, e Música Original) e não seria absurdo se saísse da premiação com alguma estatueta. A história, adaptada de um livro de mesmo nome, narra (literalmente em alguns momentos do filme) a vida de duas famílias interioranas dos Estados Unidos na década de 40 (período da primeira guerra mundial). Uma família branca (centrada na personagem de Carey Mulligan) que investe todo o seu dinheiro em terras no Mississipi e se muda pra lá, e a família negra que é contratada para cuidar da plantação.

O longa gira em torno da relação entre as duas famílias, e como elas são afetadas pelo “laço de lama” (tradução literal de ‘Mudbound’) que as une. O nome, aliás, é a tônica do filme. Uma precisa da outra, porém com motivos, mentalidades e objetivos completamente diferentes. E essas diferenças (e também as igualdades) estão sempre explícitas na série, seja na direção sensível ou nos pensamentos narrados dos personagens.

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Aspectos Técnicos

Roteiro e Direção

‘Mudbound’ é um livro escrito por Hillary Jordan em 2008 baseado em experiências e histórias que ouviu de seus avós durante toda a vida. Quando em 2017 Dee Rees adapta esse roteiro para as telas é adquirido um novo significado. Deixa de ser algo sobre uma família, mas sim sobre a história dos negros americanos. Esse peso é sentido ao assistir o filme, e a mão da diretora/roteirista é definitiva para a obra ser tão importante.

Sua câmera leva o espectador como um amigo dos personagens, que falam de seus relacionamentos, mostram seus sentimentos, e revelam seus motivos e pecados. A condução da história mescla diálogos profundos e personagens carismáticos, com uma direção belíssima e competente, que dá um ritmo intenso, como uma tragédia anunciada sobre honra e amor.

Nota: 4

Elenco

Esse é um daqueles que pode ser lembrado por estar repleto de atuações no ponto. Cada sorriso ou carranca é uma expressão  do que os personagens fazem, ou dizem. Com o artifício da narração, não há espaço ou necessidade para a super-dramatização, e essa sutileza é passada perfeitamente para o espectador.

Mary J. Blige (indicada para Melhor Atriz Coadjuvante) se destaca exatamente por interpretar uma mulher de poucas palavras, mas com um personagem extremamente sentimental. Seu compadecimento e resiliência são sentidos sempre que aparece em tela, e talvez seja a personagem mais forte de todo longa. Outros destaques ficam por conta de Carey Mulligan em uma atuação bem diferente de outras em sua carreira, como uma personagem carrancuda e com os olhos que demonstram suas indignações.

O restante do elenco segue acima da média, mas nenhuma atuação que foi “injustiçada” ou marcará história. Porém, ninguém destoa, e a imersão de quem assiste é constante por todo o filme.

Nota: 3,7

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Fotografia

A pele negra é mais difícil de fotografar e equilibrar com luz, respeitando todas as suas nuances e detalhes. Talvez pelos nossos padrões deturpados de estética, ou pelas próprias lentes e luzes serem (historicamente) preparadas para registrarem a pele branca. Além disso, Rachel Morrison tinha uma outra dificuldade em mãos: uma cinematografia que fosse pensada para equilibrar e detalhar as nuances da pele negra em um mesmo ambiente que peles muito brancas, muitas vezes sobre o forte sol interiorano.

Ao ver o resultado, a indicação ao Oscar é muito mais que justificável. Os tons pastéis e a claridade natural passam uma sensação quente e intensa durante todo o filme, além de respeitar cada um dos detalhes e nuances de cada um dos atores e personagens.  Uma fotografia extremamente equilibrada, e que exprime todo o clima da história.

Nota: 4,3

‘Mudbound – Lágrimas sobre o Mississipi’ é forte e intenso, que deve ser assistido por diversos motivos. As discussões e questionamentos soam contemporâneos, apesar da história se passar no século passado. E mais que as discussões, sobre produção ou a própria obra, é também um longa de grande esmero artístico, que deve ser observado com olhar atento. Mas, isso não será problema, já que o próprio filme tem o potencial de prender com toda a sua contraditória sutileza intensa.

Nota: 4

Confira nossa cobertura do Oscar 2018 e outras matérias sobre cinema em nossa sessão dedicada inteiramente à sétima arte!

Post Author: Bruna de Oliveira

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