Uma das melhores surpresas da Netflix em 2017, a sitcom One Day at a Time estreou sua segunda temporada na última sexta-feira (26) e mostrou que veio para ficar. A série, um remake de um programa de sucesso nos anos 1979, acompanha três gerações de uma família cubano-americana: Penélope, uma mãe solteira veterana do exército; Elena e Alex, seu casal de filhos adolescentes; e Lydia, sua mãe tradicionalista.
Seguindo uma primeira temporada que viu Penélope (Justina Machado) aprendendo a lidar com as dificuldades de ser mãe solteira de dois adolescentes e enfrentando seu estresse pós-traumático, além de Elena (Isabella Gomez) assumindo sua homossexualidade e conquistando o apoio familiar, o novo ano da família Álvarez expande com sucesso os temas de que tratou anteriormente e apresenta novos desafios. A temporada mexe em assuntos como racismo, depressão, identidade, imigração, e dá até uma alfinetada na maior ferida da política norte-americana ao tratar do controle de armas de fogo.
Apesar de um início lento, a narrativa ganha força conforme os episódios vão se passando até culminar num final emocionante, com direito a um monólogo incrível de Justina Machado (há muito um talento subestimado nos EUA). O maior triunfo da série continua sendo sua capacidade em equilibrar humor e drama de maneira magistral, provando que o antigo formato sitcom com as famigeradas risadas de fundo ainda não está totalmente ultrapassado e pode ser engraçado sem abrir mão de assuntos importantes.
Aliás, a série trabalha essas risadas (as famosas “laugh tracks”) muito bem, deixando que os momentos mais sérios e dramáticos aconteçam silenciosamente e utilizando a lacuna sonora para causar o efeito desejado no público. A esperada piada quebra-gelo e o riso descabido não acontecem aqui, subvertendo um cliché do gênero e mostrando ao espectador que esta não uma comédia qualquer.
One Day at a Time não perde jamais o foco nos personagens, cuja trajetória é cativante e cheia de humor. Alex (Marcel Ruiz) finalmente deixa de ser só o irmão mais novo e ganha um papel mais ativo na trama, tornando-se muitas vezes o elo de ligação entre sua família. Agora confortável com sua sexualidade, Elena ganha um interesse amoroso e busca se conectar mais com sua origem cubana, causando uma aproximação com sua avó. Penélope, que no fim da temporada passada decidiu voltar a estudar, tem que aprender a equilibrar uma jornada tripla e um novo namorado, e volta a lutar contra a depressão num episódio impactante e realista sem perpetuar o estigma carregado pela doença. Lydia (Rita Moreno) continua a ser a estrela do show ao passar, junto à Schneider, pelo processo para obter a cidadania americana e aprender a conviver com sua identidade cubana ao mesmo tempo. A performance magnífica de Moreno, cujas expressões, pausas, e maneirismos são um show à parte, é um atestado a atemporalidade de uma das maiores estrelas interpretativas dos EUA.
Essa temporada também acerta ao dar mais espaço para os coadjuvantes: o vizinho entrão Schneider (Todd Grinnell) ganha mais profundidade (especialmente durante os momentos em que demostra a força de sua amizade com Penélope), e o trapalhão Dr. Berkowitz (Stephen Tobolowsky) está cada vez mais engraçado. Entretanto, a série jamais perde o foco nos protagonistas e seus arcos, conseguindo afinal entrelaçar o núcleo de personagens numa colcha de retalhos natural e confortável.
Com o clima desfavorável às minorias nos EUA devido à administração da era Trump, One Day at a Time entrega uma história relevante e atual, que aborda temas políticos de forma orgânica, verdadeira, e bem-humorada em uma história que diverte e faz pensar. Após o sucesso de crítica no ano passado, a série retornou cercada de altas expectativas e felizmente não deve decepcionar os fãs, que recebem uma temporada ainda melhor e mais divertida que a anterior. Episódios curtos de 20 minutos tornam a série uma ótima opção de maratona.