Muitos filmes fazem barulho na recém-divulgada lista de indicados para o Oscar 2018, e já é possível medir a força de cada um dos títulos para definir quais têm mais chance de levarem a estatueta de Melhor Filme. Após vencer o Globo de Ouro, um candidato que tem a cara da premiação é ‘Três anúncios para um crime’, longa do britânico Martin McDonagh e que concorre em 7 categorias.
O filme narra a história de Mildred Hayes (Frances McDormand), uma mãe solteira que teve sua filha estuprada e morta na pequena cidade de Ebbing, no Missouri. Depois de meses sem notícias da polícia sobre o caso, ela decide contratar três outdoors que ficam localizados numa pequena avenida esquecida da cidade, onde o corpo de sua filha fora encontrado. Os anúncios denunciam o crime a incompetência dos investigadores, com destaque para o chefe de polícia Bill Willoughby (Woody Harrelson).
O drama, que se desenrola a partir da colocação dos outdoors, é sobre humanos e como estes lidam com o luto e suas emoções. E, assim como pessoas reais, cada um dos personagens nesse filme é falho e tem seus momentos de fraqueza, como qualquer um que já perdeu algo ou alguém importante.
Aspectos técnicos
Fotografia
Ben Davis, diretor de fotografia, está acostumado a fazer grandes blockbusters nos últimos anos (‘Vingadores’, ‘Doutor Estranho’, ‘Fúria de Titãs’), que geralmente pedem cores mais vibrantes e pulsantes para se destacarem nos momentos de ação. Este trabalho, porém, mostra um pouco de sua versatilidade, e caminha na contra-mão ao retratar uma Ebbing triste sob o sol.
Com requintes de uma sutileza habilidosa, esta pequena cidade fictícia é clara e com dias de céu aberto, mas o espectador não sente esse calor. Muito pelo contrário, sente a frieza que emana das emoções dos personagens, irônicos e amargurados, que é a tonalidade perfeita para o filme e combina magistralmente com sua proposta. Se estivesse na lista de indicados, não seria nenhuma surpresa.
Nota: 4
Trilha Sonora
Com uma merecida indicação, a trilha evoca o estado emocional dos personagens em tela, intercalando com músicas que narram histórias tristes sobre saudade (como ‘Buckskin Stallion Blues’ que toca duas vezes durante o filme), e trechos de ópera em momentos contemplativos. Apesar de exagerada em alguns momentos, a trilha certamente se destaca com seu violão interiorano, e sua melancolia quase impressa.
Essa é a segunda indicação do veterano de 63 anos Carter Burwell, que trabalhou com grandes nomes contemporâneos como os irmãos Coen, Todd Haynes (em ‘Carol’, sua outra indicação), e Spike Jonze. Se vencer, seria seu primeiro grande prêmio.
Nota: 4
Elenco
Talvez o principal trunfo do filme é seu elenco afinado e extremamente inspirado. Com 3 indicações ao Oscar, e devorando as outras premiações ao longo do ano, dificilmente ‘Três anúncios’ sai de mãos vazias em 4 de março. Sam Rockwell e Frances McDormand parecem apostas certas, e merecem todo o hype e reconhecimento.
Frances entrega uma Mildred forte e durona, mas sensível e quebrada por debaixo dessa faceta. Seus momentos vulneráveis são de cortar a alma, e em nenhum momento vemos uma “atuação”, mas uma pessoa real com dramas e momentos reais.
Enquanto isso, Sam Rockwell rouba a cena sempre que aparece com seu controverso personagem, o policial Dixon. Um estereótipo do policial racista e burro, adquire muitas camadas e importância no decorrer do longa, e é impossível não rir de sua idiotice durante quase todo o filme.
Ambos são apostas confiáveis para Atriz e Ator coadjuvante, e se vencerem também o Oscar, será uma coleção de troféus muito merecida.
Nota: 5
Roteiro
Acima de todos os aspectos técnicos, o roteiro original de ‘Três Anúncios’ é um primor. A mescla de humor com drama, os diálogos ácidos, as metáforas visuais, os personagens profundos. Tudo funciona para criar uma atmosfera densa e cheia de camadas, que renderam uma indicação mais do que merecida ao Oscar. Martin McDonagh conduz seu espectador de forma muito real e humana, mesmo com um pretexto um pouco absurdo e situações bizarras. Em pouco tempo, quem assiste é levado a acreditar no que está acontecendo, e começa a querer saber para onde essa história vai.
Definitivamente um dos favoritos para levar a estatueta de Melhor Roteiro Original.
Nota: 4,5
Com ótimas atuações e um roteiro esperto, em pouco tempo o espectador está envolvido, rindo com o constante humor negro do filme, e com um nó na garganta nos pesados momentos pontuais. Em resumo, é um filme sobre a vida e o que fazer quando precisamos continuar vivendo mesmo com o vazio da perda.
Nota geral: 4,4