A franquia “Maze Runner” sempre me pareceu um caso curioso. Estrelando um ator semidesconhecido, mas de talento e carisma notáveis, seus dois primeiros filmes conseguiram um segundo lugar no ranking de distopias adolescentes de maior sucesso cinematográfico ao mesmo tempo que são essencialmente inexpressivas. O terceiro e último capítulo da saga, Maze Runner A Cura Mortal, chega aos cinemas na próxima quinta-feira (24) sem grande comoção, após ter sua estreia adiada por um ano por conta de um infeliz acidente de gravação que deixou seu protagonista Dylan O’Brien gravemente ferido.
Sem perder tempo com explicações, o filme começa com o que a franquia faz de melhor: uma sequência de ação alucinante que coloca Thomas (O’Brien), Newt (Thomas Brodie-Sangster), Brenda (Rosa Salazar), Caçarola (Dexter Darden), e Jorge (Giancarlo Esposito) invadindo um trem em movimento numa tentativa de resgatar Minho (Ki Hong Lee) das garras do CRUEL. Após ser frustrado, o grupo de heróis precisa invadir a lendária Última Cidade, salvar seus amigos, e pôr um fim na base de operações do CRUEL com a ajuda de aliados inesperados.
Desta vez o filme traz um foco maior nos personagens e suas motivações, dando espaço para momentos mais tranquilos e emocionais para os quais não houve tempo em meio ao frenesi dos anteriores. Assim, os atores têm mais espaço para mostrar emoções complexas e dar mais identidade às personagens (muitos dos quais têm apenas poucos anos de memórias). Quem rouba a cena são as poucas mulheres da trama: Salazar, que continuar carismática e convincente como heroína de ação; a veterana Patricia Clarkson e sua tridimensional Ava; e especialmente Kaya Scodelario, que tem a dura missão de fazer a audiência sentir empatia pela traidora Teresa, a quem a atriz dá complexidade ao mesmo tempo em que mantém as convicções da personagem, que aliás, funciona como alicerce para um questionamento ético tão antigo quanto a humanidade: vale a pena o sacrifício de alguns pela vida de muitos? Mesmo que a trama faça parecer que os desentendimentos entre o CRUEL e os jovens imunes sejam facilmente resolvidos com uma boa dose de diplomacia e altruísmo, as atrizes convencem e levantam questões importantes, equivocamente ignoradas anteriormente. Os fãs dos livros, que esperam o desenrolar particular da história de Newt, também não devem se decepcionar com as atuações dos garotos, que conseguem passar um senso de lealdade e amizade tocante e essencial para o desfecho da narrativa.
Lamentavelmente, é na trama que se encontra o ponto franco de Maze Runner A Cura Mortal. A história, construída numa base no mínimo frouxa estabelecida anteriormente numa trama que, em geral, dá voltas demais e não faz muito sentido, encontra dificuldades para se estabelecer como algo crível a longo prazo. Por outro lado, quem acompanhou a aventura ate aqui não deve ter problemas com a suspensão de descrença, já que ela não foge muito do nível necessário nos longas anteriores (embora force demais a barra se considerarmos que este é o capítulo final). O fechamento do filme, inclusive, deixa bastante a desejar ao se considerar as implicações morais das situações levantadas durante a narrativa.
O filme deve também consolidar Wes Ball como grande diretor de ação, entregando várias cenas memoráveis durante as quase duas horas e meia de projeção, que não deixam nada a desejar para as melhores produções do gênero (salvo por uma ou outra câmera tremida desnecessária, a direção e angulação são impecáveis). Um dos pontos altos da franquia até agora, os cenários não decepcionam e fazem bonito tanto no quesito CGI quanto no prático (embora a Última Cidade seja uma metrópole futurista bastante genérica).
Apesar da trama rasa e desnecessariamente complicada, “Maze Runner: A Última Cura” consegue dar um desfecho satisfatório, se não memorável, à trilogia, chegando a ser sua melhor entrada. O mérito disso se dá principalmente à capacidade de Ball de construir sequencias de ação divertidas e arriscadas, e ao (tardio) aproveitamento de seus bons atores em momentos que vão além destas. No final, a franquia “Maze Runner” entrega diversão frenética, mas fundamentalmente esquecível.
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