Falar sobre Andy Kaufman não é tarefa fácil. Considerado um gênio por uns e um louco por outros, o comediante foi um pioneiro do gênero que dividiu opiniões com seu estilo controverso e inusitado. Ainda assim (ou talvez por isso) Kaufman influenciou toda uma geração de atores que viu em sua idiossincrasia um modo genuíno de arrancar reações do público, fossem elas boas ou ruins (o próprio Kaufman nunca se considerou um comediante).
Um desses atores é Jim Carrey, que em 1999 interpretou Kaufman na cinebiografia O Mundo de Andy (que no original leva o nome Man on the Moon, assim como a canção lançada em 1993 pela banda R.E.M em homenagem à Kaufman). Carrey, que à época causou estardalhaço por recriar o processo criativo de Kaufman e entrar de fato na pele do personagem, fingindo ser o próprio Andy durante as filmagens (o famoso Método de Stanislavski, ou Method Acting no inglês), foi registrado em filme pela equipe. Só agora, após 20 anos guardadas, essas imagens finalmente chegam ao público no documentário Jim & Andy: The Great Beyond, produzido pela Netflix com direção de Chris Smith.
Intercalando entre imagens de bastidores de O Mundo de Andy, vídeos de arquivo do próprio Kaufman, e entrevistas atuais com Carrey, o filme consegue fazer um apanhado não só da vida e carreira de Kaufman como também de Carrey, mostrando sua jornada como comediante até se tornar o rosto internacionalmente conhecido que é hoje. Se atores como Jared Leto hoje são criticados pelo mau uso do Método, o que vemos aqui é a técnica usada com maestria por Carrey, que veste a pele de Kaufman e seus alter egos (desde o famoso estrangeiro Latka Gravas da série Táxi até o polêmico cantor Tony Clifton) com tamanha perfeição que às vezes é difícil lembrar que não é Kaufman ali.
O ator se recusou a sair do personagem durante as filmagens, capturadas à época por Bob Zmuda e Lynne Margulies (parceiro criativo e namorada de Kaufman, respectivamente), e é notável o comprometimento mostrado por Carrey e sua equipe para que tudo fosse perfeito; a frustração desta última, aliás, fica aparente em vários momentos ao ter que lidar com “Andy” ou alguns de seus personagens, num claro exemplo do teatro do desconforto criado por Kaufman.
Mostrando momentos tocantes de Carrey e depoimentos de personagens importantes da história de Kaufman, montagem e edição impecáveis e imagens de bastidores inéditas, o documentário é obrigatório não apenas aos fãs de comédia, mas também a todos os que prezam pela arte da performance. No final, fica a dúvida se em alguns momentos o que acabamos de ver é mesmo real ou apenas mais uma performance impecável de Carrey.