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A arte de sorrir e fazer cantar de “O Rei do Show”

O Rei do Show

O filme foi lançado no cinema nessa segunda-feira de Natal (25) nos cinemas brasileiros

The Greatest Showman ou como o conhecemos aqui no Brasil O Rei do Show foi lançado oficialmente no cinema no feriado de Natal (25), última segunda-feira. Nós assistimos antes do lançamento para poder contar um pouco mais sobre nossas primeiras impressões do longa-metragem que já tem 3 indicações para o Globo de Ouro 2018, sendo elas: uma para Melhor Filme de Comédia ou Musical, outra para Melhor Ator de Comédia ou Musical pela atuação de Hugh Jackman e a última de Melhor Canção Original para “This is me”.

Dirigido por Michael Gracey, o filme com duração de cerca de 1h45 min, conta com a participação de elenco com Hugh Jackman no papel principal, Michelle Williams, Zac Efron, Zendaya e muito mais. O filme não decepciona em ser um musical em nenhum momento. Danças coreografadas e músicas são entoadas a todo canto. O suficiente para quem ama musicais não sentir falta, mas sem o exagero que torne as performances cansativas.

O longa é inspirado na história do lendário empresário P.T. Barnum, que viveu entre os anos de 1810 e 1891, e ficou conhecido por seu trabalho no ramo do entretenimento. Com um pouco de ficção, drama, romance e com mensagens de auto aceitação e superação, é que o filme promete ser uma das produções que ficará na memória daqueles que o assistirem.

A História: O Rei do Show

P.T. Barnum é um jovem homem, na casa de seus 20 anos, que já é casado e pai de duas meninas. Sempre tendo sido pobre, ele sonha em dar para sua família a vida que prometeu à esposa (Michelle Williams) – que largou a vida cheia de luxos para ficar ao lado dele.

Após ser demitido de seu trabalho formal, ele pega um empréstimo no banco para comprar um museu com animais empalhados. Sem muito sucesso, ele começa a recrutar pessoas exóticas para montar um grande show dentro do prédio do museu que já havia virado sua propriedade.

Crítica

Fotografia

Um dos aspectos que precisam ser celebrados por seus enquadramentos muito bem elaborados e movimentações de câmeras celebráveis. Algumas cenas, sem sombra de dúvidas, são as estrelas quando o quesito é fotografia. Uma delas é a cena que consta no trailer quando Anne Wheeler (Zendaya) voava em sua performance e encontrava seu olhar pela primeira vez com Phillip Carlyle (Zac Efron). A sequência começa normal, fica em slow motion por alguns segundos – tempo suficiente para entendermos a ligação entre os dois personagens logo no início – depois volta novamente nos tirando do transe em que ficamos.

Outra sequência que nos deixou maravilhadas, foi quando Barnum e Charity (sua esposa) dançam seu amor e o começo de suas vidas juntos no terraço do prédio em que começariam a morar. A cena brinca com os lençóis presentes nos varais, coloca os personagens nos limites do espaço – ora dando a sensação de que poderiam cair – e nos envolve logo nos primeiros minutos de história.

Os lençóis também voltam como apenas alguns minutos depois para abrir, de fato, o começo do filme. Enquanto o personagem de Hugh conversa com suas filhas sobre sonhos, um espaço entre os lençóis se abre para formar a entrada em triângulo de um circo e anunciar que a história está começando.

Apesar de sentir um pouco de falta de contraste, a fotografia merece aplausos por saber compor muito bem todas as performances que acontecem ao longo da narrativa.

Nota: 4,5

Figurino

Como se passa em meados de 1830, o figurino de O Rei do Show é todo pensado para continuar contando essa história nas roupas dos personagens. As referências de época que vemos mais marcantes acabam ficando por conta da paleta de cores, além de composições com chapéus, casacos e algumas saias que remetem a um tempo passado. Nas cores, percebemos variações da cor marrom (da mais escura, para a mais clara); vinho e roxo para casacos e paletós, além do uso da cor verde de forma mais constante nas peças  – o que já não vemos mais tanto na moda atual.

Quanto aos tecidos, até mesmo quando P.T. Barnum tentava subir na vida e ainda vivia com uma goteira em meio a seu apartamento com as filhas e a esposa, eram de melhor qualidade do que os que a população pobre dos Estados Unidos provavelmente usava naquela época.

As roupas de todas as pessoas que fazem parte da apresentação exótica dele são um ponto alto. Muito bem elaboradas e diversificadas para cada um dos personagens. E, ao mesmo tempo que são tão diferentes umas das outras, continuam a compor a tela muito bem como um todo.

Um ponto que deixou a desejar, porém, foi na maquiagem da Mulher Barbada (Keala Settle) que por muitas vezes pareceu falsa demais para quem estava assistindo. É claro que saber, todos já saberiam que a barba ali era falsa, mas foi um deslize real nas cenas que são fechadas no rosto da personagem.

Nota: 4,5

Trilha sonora

O Rei do Show teve as composições dos recentes vencedores do Oscar por “La la Land: Cantando Estações”, Benj Pasek e Justin Paul. A música “This is me”, indicada ao Globo de Ouro de Melhor Canção Original, é uma verdadeira celebração a auto aceitação. “Eu sou corajoso, estou ferido, eu sou quem eu deveria ser, esse sou eu! […] Não tenho medo, de ser visto. Eu não me desculpo, esse sou eu!”. Enquanto todas aquelas pessoas entoam os cantos de que não vão esconder suas características que os tornam únicos [quiçá estranhos, julgados por uma sociedade que não atura diferenças], nós também, do outro lado da tela, podemos nos sentir encorajados a colocar o que quer que tenhamos insegurança em nós mesmos para fora. É uma forma de libertar ambos personagens e público do filme para a importância de somente sermos nós mesmos sem amarras e medos.

Outras músicas incríveis [bem como suas performances coreografadas] são “The Greatest Show”, “Rewrite the Stars” – que possui vídeo de sua versão acústica na voz de Zendaya, além da primeira a tocar ainda quando Barnum aparece pequeno e a música que o encoraja já no final do filme (calma, não tem spoilers).

Nota: 5 (Nós saímos do cinema cantando “This is me” e “The Greatest Show” e estamos assim até agora)

Elenco

Hugh Jackman, como já era de se esperar, está muito bem no papel do excêntrico gênio do entretenimento P.T. Barnum. Ainda que para quem conheça melhor a história do homem por trás da inspiração para o longa, a atuação de Hugh possa parecer um pouco contida, acreditamos que ela é exatamente do tom certo para o filme. O ponto alto de sua atuação talvez tenha ficado nas sutilezas, como foi em seu olhar vislumbrado e emocionado a Jenny Lind (Rebecca Ferguson). Olhar esse que simboliza muito mais do que uma simples atração carnal: um verdadeiro romance com o sucesso e admiração que ele tanto idealizava.

Zac Efron, bem como Michelle Williams também não desapontam. Zendaya nos entrega uma trapezista linda, forte e muito bem empoderada, obrigada! Até mesmo em seus momentos de fraqueza, em que é diminuída pela sociedade por conta de sua cor, enxergamos como ela é dona de si e somente faz o que quer. Além disso, a atriz fez preparações para realmente conseguir manejar o trapézio em suas cenas sem a necessidade de uma dublê, ou seja, puro poder!

Uma boa surpresa foi com a atriz Keala Settle que nos emociona em “This is me”. Porém, além de nos levar a algumas lágrimas com a música, ela nos entrega uma personagem forte que supera seus medos ao longo da história e lidera o grupo para mostrar quem eles são. Ela mostra garra, vontade e coragem em quase todos os momentos em que aparece em tela após ser descoberta por Barnum. E a atuação de Keala só nos faz sair do cinema admirando mais sua personagem.

Nota: 4,5

Roteiro

O último e essencial tópico é o roteiro de O Rei do Show. Escrito por Bill Condon e Jenny Bicks, o longa é inspirado em uma história real, porém, possui muitas alterações para poder se encaixar nos moldes de um filme e ainda mais, nos moldes de um musical. P.T. Barnum foi o precursor do show business no mundo e teve diversos empreendimentos. O empresário fez uma fortuna de inúmeras maneiras, mas uma das primeiras e principais foi: enganando o seu público.

O verdadeiro showman chegou a sair em turnê com a suposta mulher mais velha do mundo [que não foi retratada no filme] e um anão general. Assim, ele era conhecido por suas fraudes e ganhava dinheiro porque como já diziam “as pessoas adoram ser enganadas”.

Barnum, contextualizando a história, criou o modelo de circo itinerante que conhecemos até hoje, mas ao contrário do que conta a linha do tempo do filme, ele não começou comprando um museu e depois viajando com pessoas exóticas (e algumas fraudes) por aí. A ordem dos acontecimentos foi exatamente a contrária e o roteiro também não tratou de contar sobre as outras facetas do showman nas mais diversas áreas. O único ponto diferente que o longa aborda é quando Barnum decide levar Jenny Lind a uma turnê e ficamos restritos a isso.

Apesar de o filme não ser fiel aos acontecimentos da vida de P.T. Barnum, o longa não é em nada prejudicado, tendo visto que a maioria das pessoas não conhecem a fundo a história do verdadeiro homem por trás da inspiração. Além disso, fica evidente como que todas as facetas dele não poderiam ter sido tratadas em uma só produção.

Ponto negativo

O ponto em que os espectadores podem ficar confusos – assim como ficamos – foi quando os personagens começam a acusar Barnum de ser uma fraude. O roteiro mostra quando no recrutamento de pessoas para o show ele valoriza mais as pessoas e coloca para elas alguns atributos falsos, porém, não fica claro o tamanho da mentira que era o verdadeiro.

Em O Rei do Show, o “homem mais gordo do mundo” usa um travesseiro na barriga para aumentar a impressão de gordura, o anão é apresentado como coronel de guerra [mas para quem vê parece muito mais uma atuação e um entretenimento real do que uma tentativa de enganar pessoas], o “homem mais alto do mundo” anda sobre dois pedaços de pau escondidos por uma calça e sua nacionalidade é trocada. Mas, fora isso, não vemos tantas características nele como fraudulento [além da forma ilegal como pediu empréstimo e da qual nenhuma pessoa da população do filme iria ter conhecimento] como nos é mostrado com as acusações dos personagens de alta classe.

Pontos positivos

O filme nos leva exatamente de encontro com o que esperávamos de uma boa ida ao cinema. O roteiro incrementa a vida de P.T. Barnum de forma que possamos nos identificar muito mais com sua pessoa. Ali, ele mostra o amor pelo teatro, bem como seu amor pela sua família acima de tudo. O longa nos mostra falhas e como uma pessoa pode ter o sucesso mexendo com sua cabeça, nos mostra como a sociedade antiga e a atual são cheias de preconceitos, de falta de empatia, de abusos violentos e, principalmente, de intolerância com o que é diferente ao conceito pré julgado como “normal”.

Toda a história coloca a ideia fixa em nossa mente de como continuar lutando pelos seus próprios ideais, como ter coragem de recomeçar pode te levar ainda mais longe do que você foi pela primeira vez, como é difícil as vezes se encarar no próprio espelho e como podemos superar isso. E, ainda mais, o filme nos ensina como juntos somos muito mais fortes. É nítido como o egoísmo é tóxico e pode levar abaixo anos e anos de trabalho e dedicação.

Nota: 4,8

Nota geral: 4,6

Um musical que será daqueles para assistir todas as vezes que passar na televisão, ou pelo menos umas três vezes além da primeira. A mensagem que o filme quer passar para a nossa sociedade que está cada vez mais intolerante com opiniões e com modos de vidas diferentes dos seus próprios, é também um grito de liberdade para aqueles que se sentem mais oprimidos, é um hino para a auto aceitação em primeiro lugar e a convicção de que a coragem e a vontade de vencer sempre vão nos acompanhar.

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