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Entrevista com Laura Petit na capa da E.T.C. Mag

E.T.C. Mag de setembro Laura Petit

Entrevistamos a cantora para a edição de setembro da E.T.C. Mag

Música. Dança. Arte. Uma artista. Laura Petit é uma verdadeira representação de arte em toda a sua história e carreira. Ela é uma cantora que começou com o ballet e, no fundo, ainda uma bailarina que canta suas poesias e seu íntimo para o mundo.

Laura nunca foi de se aventurar pela metade. E é assim que ela se prepara para se mudar para o Rio de Janeiro, berço do seu primeiro álbum “Monstera Deliciosa” lançado nesse ano e o responsável por abrir caminhos para a compositora.

Ainda que ele tenha acabado de ser lançado e que, com toda a certeza, trará muitos frutos, Laura já diz que o álbum era o que ela precisava fazer para continuar criando ainda mais. Um divisor de águas com letras e composições que ela estava destinada a fazer como artista.

E Laura sente! Sente a beleza de experimentar ser livre nas letras antes mesmo de sentir isso por inteiro em uma sociedade que se mostra um labirinto para mulheres em geral. Sente também como é misturar dança, memória e música. Misturar, na música, MPB, rock e ousadia. Além de, claro, o mais importante, expor o feminino em várias mulheres, de uma só mulher, para outras milhares. Confira nossa entrevista completa:

E.T.C.: Você foi bailarina. Quando decidiu que iria seguir o ramo da música para valer?
Laura Petit: A dança realmente esteve na minha vida desde sempre. Mais tarde, ela se cruzaria com a música, que ocuparia cada vez mais espaço. Foi tudo tão natural que não vi essa decisão acontecer. Só me dei conta, lá pelos dezenove anos, de que eu já era música por inteiro. Aí as decisões mais práticas vieram naturalmente.

E.T.C.: Como esse background no balé influencia o trabalho que você faz hoje?
Fui por muitos anos aluna da Escola de Dança do Teatro Guaíra. A gente tinha uma formação super completa. Além das aulas de ballet clássico, tínhamos aulas de musicalização, dança contemporânea e improvisação. Aquele ambiente fez e ainda faz minha cabeça até hoje. Lá eu já me sentia artista e aquelas músicas e sons daquele tempo estão nas minhas composições até hoje.

E.T.C.: A capa do álbum é lúdica e brinca com ambientes diversos dentro de um quarto. Qual foi a ideia por trás da arte?
Sinto que todas as músicas do disco estão de alguma maneira representadas na capa do disco. Literal ou metaforicamente. Assim como as músicas, a capa é uma viagem, e passeia pelo universo sensual-decadente-psicodélico do álbum.

E.T.C.: Quanto tempo você levou do início das composições até a finalização do álbum?
Mais ou menos um ano e meio. A ideia do disco já morava em mim, e eu vivia um processo de descobertas e de bastante estudo antes de começar o álbum. Hoje é bacana ver como as coisas mudaram em relação ao que eu imaginei que seria o disco no seu início.

E.T.C.: Falando muito sobre o feminino, o que você acha que o álbum “Monstera Deliciosa” revela sobre você?
Quando comecei a compor as músicas, não tinha ideia de que escrevê-las se revelaria, além de um prazer, uma necessidade. Para outros discos virem eu precisava antes do Monstera. Acho que o feminino que percorre todo álbum é reflexo disso, muito mais do que intenção. É um disco muito sincero e transparente.

E.T.C.: Sobre o nome “Monstera Deliciosa”, como surgiu a ideia?
O disco já havia sido batizado algumas vezes antes de eu encontrar o Monstera. Já durante a mixagem do álbum, e sem nome certo, ao ouvir a faixa “Paraíso Menu” ficou na minha cabeça o trecho “quero temperada essa costela de adão”, e a dualidade do nome da planta e do termo do livro de gênesis. Resolvi pesquisar sobre a planta e me deparei com seu nome científico: Monstera deliciosa. Era perfeito. Passei dias dormindo e acordando feliz que meu disco tinha nome e era sua cara.

E.T.C.: Seguindo a linha do que as músicas dizem sobre você, qual é o sentido da faixa “Tarado” para você?
“Tarado”, na verdade, veio de carona, quando a gente resolveu que iria gravar outra faixa do álbum “Eu Não Peço Desculpa”, do Caetano e do Mautner. Foi numa conversa com o Manso e o Estevão (dois dos produtores do disco) que veio a ideia de “Tarado”. Acho que ela nunca tinha sido regravada, e achei interessante subverter a ideia da música e ela ser cantada por uma mulher. Além da linguagem meio sacana que acho que a gente deu pra nossa versão, eu adoro a música e acho que ela orna demais com o disco.

E.T.C.: Quais outras mulheres artistas no ramo da música que você mais escuta e se influencia para seus próprios trabalhos?
Boa parte das minhas referências é de mulheres. Adoro escutá-las! Bethânia e Gal são unânimes, não tem como não amar. Rita e Baby: as duas me deixam tão confusa que eu me apaixono. Elza me emociona em tudo que ela faz. Mas na minha cabeça moram também Céu, Bárbara Eugênia, Nina Becker, Blondie, Karina Buhr, Salma Jo, Ava Rocha, Leticia Novaes, Anelis, Françoise Hardy. É tanta mulher incrível.

E.T.C.: Você nasceu em Brasília, foi criada em Curitiba e se prepara agora para morar no Rio de Janeiro. O que acha que essa mudança influenciará na sua carreira?
Minha relação com as três cidades é bem diferente, e eu adoro todas elas. Foi em Brasília que eu comecei a compor e eu vou muito pra lá porque parte da minha família ainda mora na cidade. Curitiba é onde eu cresci e onde está meu núcleo familiar e a maior parte dos meus amigos. E o Rio, que antes eu gostava, eu passei a amar depois de descobrir o carnaval. Além de ter amigos lá, foi onde gravei o disco, então passei uma boa temporada sentindo a cidade. Me sinto em casa nos três lugares, mas é no Rio que eu tenho me encontrado mais ultimamente, desde o Monstera. Além disso, o Rio me presenteou com encontros que fizeram nascer o Monstera e muitas outras ideias. Quero estar lá pra viver esses encontros, essas ideias e outras novas.

E.T.C.: Você cita que a mulher do disco é livre, e que isso assusta. Como você acha que isso se relaciona ao mundo em que vivemos hoje em dia? E você, se sente uma mulher livre?
Não acho que eu sou sempre livre. Acho que o Monstera me libertou muito, mas é parte de um processo, que talvez nunca acabe. Apesar de ser um disco muito sincero e transparente, o eu-lírico do disco não sou eu. Eu ainda não consigo falar todas aquelas coisas corajosas, mas eu faço música com uma personagem que fala. E assim eu vou me libertando. É a minha ferramenta e acho que muitas mulheres têm a sua.

E.T.C.: Que mensagem você gostaria que todas as pessoas recebessem ao escutar suas músicas?
Se as pessoas receberem alguma mensagem já vou ficar imensamente feliz. É maravilhoso saber que tem gente escutando minhas músicas e que elas podem fazer algum sentido. É lindo saber que elas cabem em tantos lugares.

Confira a edição completa da E.T.C. Mag de setembro com a Laura Petit

 

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