Conversamos com a banda durante o Festival de Inverno de Franco da Rocha
A banda Detonautas, uma das mais icônicas da história do rock nacional, e que teve seu auge na década de 2000, chegou na última sexta-feira (25) na cidade de Franco da Rocha para show no Festival de Inverno que acontece durante todo o mês de agosto. Apresentando novas faixas, além dos grandes sucesso da carreira, a banda não deixou a passagem ser apenas sobre música e o vocalista Tico Santa Cruz ainda ministrou uma palestra no mesmo dia a tarde.
Conhecida como cidade dormitório, Franco da Rocha vem redesenhado sua história e sua relação com a população local e da região. Crescendo nos últimos anos, a cidade começou a investir também muito mais em lazer e cultura. A inauguração do Parque Benedito Bueno de Morais é um dos exemplos de obras que melhoraram a qualidade de vida da população que agora enche o seu espaço quase todos os dias da semana para atividades físicas e lazer.
Assim como é local para esportes diversos, o parque também virou palco para o show da banda Detonautas. Movimentando centenas de pessoas de Franco e região, o show conseguiu reunir ainda pessoas no viaduto que dava vista privilegiada para a apresentação da noite.
A apresentação contou com faixas novas como foi o caso de “Nossos segredos”, divulgada em julho desse ano, os grandes sucessos da carreira da banda como “Olhos certos”, “Outro lugar”, “Você me faz tão bem”, e covers de grandes nomes nacionais e internacionais, como Legião Urbana, Raul Seixas e Rage Against The Machine. Mas foi o cover de “Highway to hell” do AC/DC, em que o guitarrista Phil assumiu os vocais para entoar um dos maiores hinos do rock mundial, que mais surpreendeu o público presente.
O show também contou com verdadeiros momentos a favor do amor e da união entre as pessoas. Em “Você me faz tão bem”, Tico fez discurso falando sobre como seríamos mais fortes se estivéssemos unidos e nos motivou a abraçar uns aos outros sob os dizeres de que “o amor é a única revolução verdadeira”.
Além de um show incrível, o vocalista do Detonautas se abriu também para um roda de bate papo horas antes de sua apresentação. Tico ficou aberto ao questionamentos dos moradores da cidade e tratou de temas relacionados à política, educação, cultura e, claro, música! Mais um exemplo de como a cidade de Franco da Rocha está abrindo portas para a cultura já que, conforme Tico disse durante a palestra, foi a primeira vez que recebeu esse convite e gostaria que tivesse essa mesma oportunidade em outros lugares em que passa.
Tico salientou ainda que suas opiniões pessoais não devem mudar a maneira como as pessoas enxergam a banda. “A música é o caminho, é bom ter pessoas admirando e se espelhando em nosso trabalho. E melhor ainda é trazer esses admiradores para momentos como esse, em que podemos expor nossas ideias e opiniões de forma sadia”, completa ele.
Confira agora nossa entrevista com Detonautas
Logo após o show conseguimos entrar no camarim da banda e conhecer cada um dos integrantes. Foi lá que tivemos a oportunidade de conversar com Tico Santa Cruz, vocalista da banda. Veja como foi nosso papo:
E.T.C.: Vocês liberaram a música “Nossos segredos” e cantaram algumas outras hoje no show. Como estão sentindo a receptividade do público e já tem uma data para outros lançamentos?
Tico: A próxima música sai no dia 1º de setembro, que é uma parceria com o Leoni chamada “Dias assim”. Em outubro a gente deve começar a lançar em bloco. Ainda estamos pensando na estratégia porque o digital é diferente do que era antigamente, do disco que vinha tudo de uma vez só. A gente tem estudado métodos para poder fazer com que a galera se interesse pelo conteúdo e não disperse no meio do lançamento porque hoje em dia tem muita coisa acontecendo. São 30, 60 lançamentos por dia no Brasil, é difícil de conectar. Estamos tentando criar um vínculo, sentindo os shows e tudo. A própria música que a gente lançou na semana passada bateu 120 mil reproduções. Número que para gente é muito considerável contando que não temos tanto espaço e o rock não está tanto em evidencia hoje em dia.
E.T.C.: Pegando o gancho do rock não estar em evidência. Você acha que as novas bandas que estão misturando ritmos dentro do gênero podem dar uma virada no cenário?
Tico: Muitas pessoas têm o sonho de viver do rock, né? E hoje no Brasil ele representa um percentual muito pequeno no mercado fonográfico, então precisa de muita disposição para estar nessa luta. Qualquer mistura que traga novidade, qualquer banda que consiga de alguma maneira passar essa rebentação que a gente está tentando quebrar para fazer o rock circular na nova geração, é bem vinda. A gente precisa disso! As bandas que estão já há muitos anos precisam que venham os novos para poder oxigenar a cena, então depende muito de como a galera vai abordar. Eu espero que eles consigam encontrar um caminho para espalhar para grande massa. O rock não pode ficar só para o gueto, ele tem que ir para todo mundo. Não só nos nichos, temos que tocar para a massa! Esse é o meu pensamento.
E.T.C.: Você acha que a mídia tem um papel na caída do rock no mainstream?
Tico: Não acho não, a mídia explora algo que já está dando resultado. Ela só vai ali explorar e amplificar algo que já tem um expressão. O rock teve fases nos 80, nos anos 90, anos 2000 a gente entrou, depois teve a fase entre 2010 e agora que deu um hiato gigante de não ter nada na massa, na mídia. Óbvio que no underground tem milhões de bandas acontecendo, mas eu acho que para o underground oxigenar e a galera conseguir sobreviver de música, tem que ter referências em cima para galera conseguir conectar. É cíclico, né? Espero que o rock volte a dialogar com a massa.
O momento agora é da galera do rap que está dialogando bem com a juventude. Acho que temos que aprender com eles, ver como eles estão conversando com as pessoas e de alguma forma seguir por esse caminho no rock. A gente precisa renovar.
E.T.C.: Você tem um posicionamento político e social bem forte nas redes sociais, você acha que isso impacta na banda de alguma forma? Seja nas letras ou na forma como o público enxerga o Detonautas?
Tico: Eu gostaria de acreditar que não. Se a gente vivesse num país em que as pessoas respeitam a opinião das outras… mas, infelizmente, hoje a realidade em que vivemos é muito diferente. Não tem o cinza, só o preto e branco, não tem diálogo entre as pessoas, então o que estamos tentando fazer é criar essa área de diálogo. Chegar para o fã que não concorda comigo e falar que o Detonautas não é o Tico Santa Cruz, são seis pessoas cada um com a sua postura e a gente convive bem com as nossas diferenças, a gente se resolve bem. Tem que entender que uma coisa não está ligada à outra. O fato de eu ser vocalista não significa que eu sou o cara que representa a ideia da banda. A banda tem sua própria identidade, sua própria vida, suas próprias mensagens através da música, seu próprio posicionamento. Aqui temos coisas que a gente concorda e outras que não concordamos. Agora, óbvio que isso reflete na banda. Nossa tentativa é de ter essa reconciliação com nossos fãs e falar que somos artistas e que queremos a mesma coisa que eles, um Brasil melhor, que as coisas funcionem.
E.T.C.: Se o Detonautas de hoje pudesse dar um conselho para o Detonautas de 20 anos atrás, qual seria?
Tico: Eu não daria nenhum conselho, o Detonautas viveu tudo que tinha que viver. A gente não se arrepende de nada que a gente fez. Aprendemos muito com os nossos erros também. Tivemos excessos, tivemos posicionamentos que poderiam ter sido evitados, mas talvez a gente não tivesse aprendido tanto, não tivesse a consciência e a maturidade que a gente tem. Então, não dá para você desconstruir sua vida olhando para o passado e falando “Porra, não faz isso, não faz aquilo”. Não! Olhando para o futuro podemos pensar em não repetir esses erros, mas para o passado foram essas coisas que nos tornaram quem somos. Eu não mudaria nada. Sou muito feliz pelo o que a gente é.
E.T.C.: Você publicou recentemente sobre o Pabllo Vittar no Facebook, gostaríamos de saber se você escuta e quais outras músicas diferentes do rock você vem ouvindo também?
Tico: Eu tenho uma filha de 9 anos então eu já tenho uma influência de uma menina que está conectada com tudo que está rolando de música que tem a velocidade da garotada de hoje. Tenho um filho de dezesseis anos que escuta rock, zoeira de internet, funk… então eu estou ligado de alguma forma com essas pessoas que estão produzindo e atuando na música. A Pabllo eu acho que ela tem uma importância, e nisso não estou falando das músicas propriamente – conheço as faixas, escutei o álbum, tem coisas que eu gosto, tem outras que já não rola para mim – mas eu tenho nela uma referência de alguém que consegue representar uma minoria, o que é importantíssimo para a juventude, para abrir diálogo no assunto. Ter alguém como expoente respeitado que possa falar, se expressar. É nesse aspecto que eu acho que ela tem essa função. Tanto é que ela é o Pabllo e a Pabllo. Ela mexe com todas as questões que a gente tem que debater para poder lidar melhor com isso. E não só ela! Liniker, Johnny Hooker que tem um posicionamento claro com relação a gênero. Nós precisamos debater esse assunto e essas pessoas são fundamentais para fazer esse diálogo.