Texto do dramaturgo americano Neil LaBute é intenso, dramático e totalmente inesperado para uma relação familiar
Na trama dirigida por Otávio Martins, os irmãos Bobby (interpretado por Pedro Bosnich) e Betty (encenada por Guta Ruiz) se encontram em uma cabana antiga, em um bosque afastado. Ele está no local a pedido dela, para ajudá-la, mas a partir do momento que os dois se encontram, uma enxurrada de revelações começa de forma muito mais intensa do que a forte chuva que cai do lado de fora.
Alguns dos conflitos acontecem por conta da diferente vida dos personagens. Ela é uma professora universitária, ele é um operário que ganha a vida com serviços braçais. Contudo, a diferença entre a profissão deles não é a única que gera discussões. Há muitas descobertas que são feitas no desenrolar da peça, muitos segredos, histórias do passado e muito mistério também, que contribuem com longas brigas e mais e mais tensão.
Mas ao passo que as revelações vão acontecendo, descobre-se que Betty e Bobby não possuem o afeto comum entre irmãos que cresceram juntos. Aos poucos, mas de forma muita intensa, ambos revelam seus defeitos, seus erros, suas fraquezas e até suas posturas estranhamente doentias, repugnantes, mas reais (mesmo que incomuns)!
Ficou curioso? Então saiba que “O Bosque Soturno” é para quem realmente gosta de dramas inesperados. E se quiser mais detalhes, descubra abaixo, em entrevista que a equipe do E.T.C. fez com os atores Pedro Bosnich e Guta Ruiz, outros assuntos presentes na peça, como o machismo, por exemplo.
ENTREVISTA
A trama fala muito sobre a questão de a irmã ter saído da cidade, em busca de um futuro melhor, e do irmão ter se contentado com vida que tinha lá, onde nasceu. Porém, em algum momento a peça aborda o que é certo e o que é errado?
Guta Ruiz: Não. Não tem essa lição de moral. Isso é muito interessante no texto do LaBute. Ele expõe as situações problemáticas de uma família, mas não tem uma conclusão. É o público que pensa.
Pedro Bosnich: É isso! Cada um pensa de uma maneira. O LaBute deixa aberto para você concluir. O tempo todo, na peça, os irmãos ficam indo e vindo em vários lugares. Tem hora que o público torce por ela, tem hora que torcem por ele e chega um momento que você para e pensa quem presta menos ali. O espetáculo acaba tocando as pessoas em vários pontos diferentes e cada personagem toca em um momento.
Há espaço para alguma pitada de humor negro em meio ao drama intenso do espetáculo?
PB: Algumas pessoas acabam rindo pela situação em si, familiar, em que um irmão fala baixaria para o outro e acaba gerando conflitos. Acho que é isso o provoca alguns alívios cômicos, mas não é para ser humor.
O que torna os personagens tão diferentes?
PB: Eles são irmãos com pouco convívio. Enquanto ela foi estudar, fazer faculdade, ele ficou na cidade. Esses caminhos opostos fizeram com que eles se tornassem quase desconhecidos. São pessoas muito diferentes. Ela é culta, vivida, e ele é um xucro, simples, humilde e machista. Ele acredita em uma cultura em que as mulheres são submissas e a irmã dele não é nem um pouco assim.
Falando em “machismo”, esse é um tema muito abordado na peça?
GR: Isso está explicito o tempo todo. Nos textos dele [do Bobby], na maneira como ele trata a Betty, no pensamento dele sobre as escolhas que a irmã fez na vida, seja quando ela era adolescente ou quando ela optou por sair de casa e ir estudar, sempre há a indignação e, com isso, as atitudes machistas. Mas no fundo, ele não se considera machista, porque os machistas mesmo não se consideram como tal. É a visão dele.
E como ela reage a essas atitudes?
GR: Ela não consegue conceber como alguém pode raciocinar dessa maneira. As reações vocês vão ver no espetáculo.
Serviço
Onde: Livraria Cultura, no Teatro Eva Herz – Av. Paulista, 2.073, Bela Vista.
Quando: quinta e sexta-feira, 21h.
Temporada: Até o dia 24 de Março.
Bilheteria: de terça a sábado, das 14h às 21h; aos domingos, das 12h às 19h.
Valor: R$ 40,00 (inteira), R$ 20,00 (meia). Compre os ingressos aqui!
Duração: 60 min.
Classificação: 16 anos.