Um jeito diferente – e muito legal – de fazer teatro para as crianças
O teatro é um espetáculo que te deixa dentro da história. Quando ficamos tão perto do palco, escutando tudo que os personagens dizem em alto e bom som, ao vivo, tudo se torna real pelos minutos que se passam. E tudo isso é ainda mais intensificado quando a peça tem como público alvo o público infantil, que se joga na história e se encantam com os espetáculos cheios de cores, músicas alegres e cenários incríveis, certo? Certo (também), mas no caso desse espetáculo em especial, o cenário não é exuberante, não conta com fantasias coloridas e nem tem músicas.
A peça “The Ratos”, produzida pela Cia Variante, estreou em 2013 e desde então vem sido apresentada em várias cidades e continua buscando mais e mais lugares para mostrar um jeito diferente e inovador de fazer teatro infantil.
“The Ratos” conta a história de dois ratos que roubam os ovos do coelho da Páscoa para distribuir para as pessoas porque eles querem ser tratados como os coelhos. E com uma história simples, a peça conta a realidade de crianças de rua em forma de metáfora. “Os ratos são uma metáfora para os meninos de rua que têm que pedir as coisas ou acabam indo para o crime. O coelho seria uma criança da classe média que tem condição de ter um brinquedo, mas precisa trabalhar para conseguir um; e a menina, que também é uma personagem importante na história, é rica, faz curso de inglês, tem todos os brinquedos e não precisa trabalhar para ter tudo isso”, conta a atriz e fundadora da Cia Variante, Tati Takiyama.
Em conversa com dois dos criadores tanto da peça, quanto da Companhia, é possível perceber como a história mexe com o público exatamente por ser diferente das demais. Uma coisa que nos chamou muita atenção é o fato da peça ser escura e contar com uma trilha sonora ao vivo e de impacto, com música forte e com ruídos para retratar a cidade de São Paulo e, até mesmo, a confusão na cabeça dos dois ratos. Outra cena que nos deixou impressionadas, é uma cena em que os ratos ficam invisíveis para a menina, quando eles fingem estar pedindo esmola.
A história e a forma como é contada, é forte e por conta dessa escolha estética dos criadores, muitas vezes, e peça não consegue entrar no circuito teatral infantil. Além disso, o fato da Companhia ser nova e não ter nomes de peso e já renomados no cenário teatral acaba limitando a peça e o público que ela poderia atingir.
Apesar da peça ser tratada e vendida como infantil, ela também é muita assistida pelo público jovem e, claro, por adultos que vão acompanhar as crianças, e que acabam entendendo melhor e também se envolvendo bastante com as metáforas ali contadas. E por ser, por assim dizer, feita para todos, as reações do público são bem diferentes, tanto por conta da idade e da maturidade da pessoa, tanto por conta do local em que ela está inserida.
“Cada público se identifica com um personagem diferente. Tem lugar que a gente se apresenta que as crianças e os adultos se apaixonam pelos ratos. Tem criança que tem pavor dos ratos e só quer ficar com o coelho. E tem público que só quer a menina, ela é a princesa para eles”, conta Tati.
O importante para todos os integrantes da Cia Variante é fazer teatro infantil que não seja mastigado, que não jogue tudo fácil para as crianças, porque mesmo pequenas, elas conseguem entender o que estão vendo – por mais que não seja tudo. E isso é um exercício para a criança, de compreensão, de entender o que não está tão exposto, ao mesmo tempo que ela se diverte e aproveita uma sessão de cultura e entretenimento.
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