Capitã Marvel – Crítica | expectativa X realidade

Por Jaqueline Oliveira

Se as mulheres e meninas de todo o mundo estão aplaudindo o primeiro filme da Marvel protagonizado por uma mulher, significa que elas se sentem representadas e podem ter como inspiração e referência, pela primeira vez, um heroína de um dos universos de heróis mais amados do cinema. Mas não significa que o filme, num todo, seja bom. Mesmo assim, Capitã Marvel chegou e chegou com tudo: bateu a marca de US$ 524 milhões nas bilheterias!

O longa já tinha conseguido US$ 153 milhões, em vendas domésticas, e se torna a maior bilheteria para um filme estrelado por uma mulher. Fora isso, é o segundo maior lançamento de super-heróis e só fica atrás de Pantera Negra (US$ 202 milhões em 2018). Com Capitã Marvel, o Universo Cinematográfico Marvel (UCM) ultrapassa a marca de US$ 18 bilhões nas bilheterias, se consagrando como uma das grandes franquias do cinema.

Em sinopse, o filme apresenta Carol Danvers ao se tornar uma das heroínas mais poderosas do universo quando a Terra fica no centro de uma guerra secular entre duas raças alienígenas. Confira o trailer!

O que achamos?

Por mais que a expectativa fosse que o filme traria à tona questões envolvendo a representatividade feminina e a luta das mulheres para, finalmente, terem seus lugares que lhe são devidos, e que isso seria um dos ápices desse projeto, ainda sim ele foi raso. Por mais que algumas tomadas durante o longa – aquelas para causar emoção, tragam à memória de muitas mulheres o desafio de cair e levantar diante de um grupo de homens que dizem que ali não é lugar para elas, ainda sim, pareceu ser apenas um escape que o roteiro achou para cumprir com o que ele vinha prometendo nos últimos 3 anos que estava parado nas mãos dos produtores. Por mais que exemplificar que o controle de todo o potencial feminino não está nas mãos de uma sociedade opressora e machista, mas sim em cada mulher – como quando a heroína descobre todo seu poder e que ele não pode ser controlado pela Inteligência Suprema, ainda sim, são exemplos do longa que soam como uma forma de amarrar as pontas soltas de um roteiro extremamente fraco.

O filme é raso por não ter construção de personagem e por apresentá-lo sem condicionante para conexão com o público. Peca na execução e não entrega o que havia prometido: um filme que seria ímpar nas produções do UMC e em sua originalidade em filmes de origens. Ficamos mais com a sensação do quanto a heroína será boa no próximo projeto (Vingadores: Ultimato) do que com a sensação do quanto ela é incrível neste, simplesmente por não ter sido bem explorada em seu filme solo.

Imagem – divulgação

A narrativa que é praticamente só em flashbacks traz para o conceito de filmes de origens a velha e cansada fórmula de apresentação de um personagem – o que lembra muito a maneira da DC de retratar novos heróis nas telonas. Na primeira metade, o filme só é cansaço. Lento e genérico. Apresenta nada que vá alterar a narrativa em si, ao longo do filme. A própria Brie Larson transmite superficialidade. Sem emoção nenhuma. É isso, NENHUMA. Estão dizendo que ela está antipática, mas nem isso. Não é possível ter vínculo com a personagem, pois (acredito eu que mais pela direção do que pela própria Larson, considerando sua performance extraordinária que a rendeu um Oscar por “O Quarto de Jack”) ela é mal dirigida. Chega a incomodar a falta de construção de sua personalidade para que o público consiga sentir suas motivações, principalmente para as mulheres – que parece que precisam se contentar apenas o que foi “dado”  à elas como representatividade feminina, como comentei no primeiro parágrafo. Mas se for para analisar, todo novo herói que está em processo de descoberta, seja de seu poder ou de sua origem/passado, se lembra do quão fraco era/é, e o quão poderoso será ou já é. É apenas um detalhe de perspectiva que se adequou à realidade feminina, mas de forma genérica.

Agora o que se pode dizer quando comparamos Capitã Marvel com o filme protagonizado por uma mulher do universo da DC, Mulher Maravilha? É que no segundo é mais fácil sentir empatia e ter vínculo com a personagem que é  uma DEUSA – superpoderosa, do que com a Carol DanversCapitã Marvel que tem origem humana, o que facilitaria ainda mais a conexão, sendo a heroína mais poderosa do UMC, mas que no filme, não foi construída para ter vínculo e afasta o público ao invés de aproximar.

Imagem – divulgação

Uma personagem feminina icônica do cinemas nos últimos anos e que carrega um conteúdo feminista e com mais representatividade sem, necessariamente, falar sobre é a Rey de “Star Wars: O Despertar da Força”. Uma personagem que também está em processo de descoberta de seu passado, seu potencial, é mulher, tem como amigo um homem negro e luta num ambiente completamente desfavorável para entender o todo e a si própria. É quando ela descobre a sua força. O papel de representatividade, e não só feminina, é tão forte e tão intenso que trouxe à ela a personificação de muitas mulheres, sem precisar apelar.

Em Capitã Marvel vemos uma mulher no mesmo processo de descoberta: tem como amigo um homem negro, Nick Fury (Samuel L. Jackson), sua melhor amiga de infância é uma mulher negra, mãe solteira da adolescente a Mônica Rambeau – possivelmente, a “Miss Marvel”, ainda sem confirmação dos produtores, mas que, nos quadrinhos, já integrou a equipe de Vingadores e já usou codinomes como: “Fóton”, atualmente conhecida como “Espectro”. A problemática está quando o filme é vendido para um propósito dentro do seu universo, mas que se adéqua às questões sociais – adequação movida pela perspectiva e resposta do público aos materiais de divulgação e ao peso funcional do personagem,  e as tomam pra si, porém  sem saber como.

Imagem – divulgação

Pantera Negra, por exemplo, soube muito bem – um filme que tem contexto, construção de personagens, roteiro que não extrapola o inconsciente do público para juntar peças que não seriam juntadas, e cenas de ação de fazer o coração acelerar.  Praticamente não existe ação em Capitã Marvel. Os cortes são tão esdrúxulos que dão agonia: você enxerga ela levantando a perna para dar um chute, mas não vê o chute acertar o alvo. É bem assim. Aí vai mais uma comparação com as cenas espetaculares de lutas de Mulher Maravilha. Sobrou até para a computação gráfica que só teve lugar ao sol na última parte do longa quando a heroína floresce. O alívio cômico fica para o gato Goose (mais para MIB do que outra coisa) e para a versão mais nova de Fury. Funciona.

A questão é que para um filme com tanta aclamação, de um universo que temos grau de excelência, Capitã Marvel decepcionou bastante. Mas, as cenas pós crédito ressaltam a sua importância no em Vingadores: Ultimato e nos dão esperança de que o futuro para a heroína será melhor.

Em cartaz.

Imagem – divulgação

Ficha Técnica

Título: Capitã Marvel (Captain Marvel)

Ano: 2019

Data de lançamento: 7 de março (Brasil)

Direção: Anna Boden e Ryan Fleck

Duração: 124 minutos

Para saber mais sobre cinema, acesse aqui.

Post Author: Jaqueline Oliveira

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *