Resenha de Bohemian Rhapsody – a biografia cinematográfica sobre o Queen

Por Jaqueline Oliveira

Eu disse que tentaria! Tentaria decifrar esse filme em palavras e tentaria caracterizá-lo na mesma proporção de grandiosidade que a responsável pelo título, a música Bohemian Rhapsody tem: emocionante, excêntrico, forte, temperamental, eletrizante e muito, mas muito comovente! O filme Bohemian Rhapsody é um reflexo do personagem principal dessa história, Freedie Mercury, o vocalista do grupo britânico Queen. Em dosagem corretíssima de emoções, o longa apresenta a personalidade do vocalista, todos os complexos da trajetória junto a Brian May e Roger Taylor e a essência da banda considerada expoente em seu estilo, além de recordista de vendas de discos a nível mundial.

Em sinopse, Bohemian Rhapsody é uma celebração exuberante do Queen, sua música e seu extraordinário vocalista, que desafiou estereótipos e quebrou convenções para se tornar um dos artistas mais amados do planeta. Apresenta o sucesso meteórico da banda através de suas canções icônicas e som revolucionário, a quase implosão quando o estilo de vida de Mercury sai do controle e o reencontro triunfal na véspera do Live Aid, que enfrentando uma doença fatal, comanda a banda em uma das maiores apresentações da história do rock. Durante esse processo, foi consolidado o legado do Queen que sempre foi mais como uma família, e que continua a inspirar desajustados, sonhadores e amantes de música até os dias de hoje. Confira o trailer!

O que achamos?

Reafirmando o que abri no começo do texto, o filme não é apenas bom, é, claramente, o espelho da personalidade do cantor e da banda, e seu significado se garante aí. Se supera justamente pelo fato de entregar algo cheio de expectativa, em razão do grau de dificuldade em re-contar uma história muito conhecida e regada por música. Cada promessa que foi concebida na cabeça dos fãs da banda com o anúncio do filme, com certeza foi cumprida, ou melhor, superada. Devemos deixar explícito que o cinema requer detalhes que garantam a emoção do expectador, portanto detalhes da própria vida de Mercury (como o encontro com Brian May e Roger Taylor e sua entrada no grupo) foram contados dentro de uma narrativa cinematográfica, ou seja, com alguns pontos desconexos com os fatos da realidade, mas nada que mude a essência do que se quer apresentar.

Imagem – divulgação

Outro aspecto que deve chamar a atenção é a ordem temporal que não acontece no projeto. Para quem conhece cada passo do músico e da banda, pode ter sentido um certo desconforto ao receber a “desordem temporal” que, acredito eu, foi proposital para garantir maior dinamismo e apresentar, mais poeticamente, algo mergulhado em poesia, sem parecer documental. Vamos combinar que se fosse para assistir cada detalhe da vida de Mercury e do Queen, assistiríamos um documentário e não um filme efervescente que nos emociona com o drama da realidade e nos diverte com a característica cinematográfica.

A sensação de exatidão do resultado com o que se esperava é clara em cada aspecto do filme: sua execução exemplar, a garantia de emocionar sem muito esforço (e isso não se deve apenas pela história do vocalista, mas como ela foi contada no longa: direção, roteiro, trilha e imagem), a música como papel fundamental na composição final do projeto, um elenco que dá a sensação de ter sido elaborado apenas para o filme e, com certeza, a atuação fascinante de Rami Malek.

O show deve continuar – The Show Must Go On

Imagem – divulgação [bastidores com os ex-integrantes da banda]
Abaixo, o que achamos de alguns pontos mais específicos do projeto!

Direção

Bryan Singer, diretor de sequências de “X-Men” e “Superman – O Retorno” tem assinatura de direção de Bohemian Rhapsody, mesmo após um escândalo sexual o envolvendo, e Dexter Fletcher de “Voando Alto” ter assumido o posto após sua saída.  Com pré direção de Singer e conclusão de Fletcher, a direção entrega um filme que na crítica exterior, não passou de “convencional” por não entrar nas ‘profundezas dos bastidores da lenda Queen’. Acredito que a pegada acelerada, dinâmica e que trabalha o drama de forma pontual, mesmo que ele esteja por todo o lado, faz da direção algo muito mais espontâneo do que o habitual, do o que fica na “fórmula do mercado”, ponto que a banda sempre tentou fugir e que é enaltecido no filme, como muitas falas sobre.

Sem parecer documental, a direção aproveita cada segundo que tem disponível para apresentar a poética temperamental do Queen e que não perde o fôlego (se tivesse mais 30 minutos de filme, com certeza não se teria dificuldade alguma em continuação). Passagens de cenas, o minimalismo de algumas tomadas e a construção do que foi apresentado, condizendo com o que o roteiro propôs, entregou um filme além do que costumamos assistir (dentro da fórmula convencional), tudo bem estruturado.

Imagem – divulgação

Roteiro

Com um o foco voltado para a vida de Farrokh Bulsara, nome verdadeiro de Freddie, o roteiro fica para Anthony McCarten, conhecido por ser indicado ao Oscar de melhor filme na edição de 2018 pela realização de “Darkest Hour” e na edição de 2015 por “The Theory of Everything”. Sem ordem temporal, com um alcance poético e engrenagem que faz as duas coisas funcionarem bem com a complexidade da vida do cantor e situações que a banda enfrentou, McCarten entrega um roteiro sólido que foge da obrigação de colocar no papel o TUDO sobre a banda e que ainda aposta no que o cinema busca quando faz uma biografia voltada para as telonas.

Elenco

Vamos começar esse tópico falando da fascinante performance de Rami Malek ao performar no cinema o performista da música. Sua atuação é tão verdadeira que para quem não conhece a fundo Freddie Mercury, acaba aceitando o ator como o recurso visual ao ligar o nome de Mercury ao inconsciente. É arrasador a forma como ele encarna o personagem e o entende verdadeiramente, sendo-o sem precisar de outras ferramentas para tal. Outro ponto que para alguns deve incomodar, mas que vejo como uma opção da direção para garantir mais veracidade, é o fato de Malek dublar as músicas. Claro que seria muita responsabilidade pedir para que o ator cantasse “da mesma forma” que Mercury. Incomodaria muito se assim fosse. Não duvidando da capacidade de Malek em cantar, mas analisando quem ele tentaria se parecer em potência vocal, é pouco provável.

Imagem – divulgação

Além disso, Joseph Mazello está como John Deacon, Ben Hardy interpretando Roger Taylor e Gwilym Lee, como Brian May. O elenco conta ainda com Lucy Boynton no papel de Mary Austin, Aidan Gillen no papel de John Reid, Tom Hollander, como Jim Beach e Mike Meyers interpretando Ray Foster. Todos com a grandeza que requer os papéis de cada personagem, além do fato de se parecerem muito com os personagens dessa história na vida real.

Som – trilha

O X da questão sobre “música e cinema” também é um dos pontos mais altos do longa. Bohemian Rhapsody é sustentado por música do início ao fim. O público já é envolto na atmosfera musical produzida pelo Queen, logo na segunda ação da primeira cena. A combinação é tão perfeita que dá a sensação de não ter sido difícil a escolha e a produção nesta parte. A música Bohemian Rhapsody é trabalhada ao longo do projeto e as características visuais também funcionam ao casar as duas coisas: a música e seu processo de composição. A trilha, como já dissemos aqui, é um recorte das mais icônicas canções da banda que deram a coroa lendária ao Queen.

Imagem – divulgação

Imagem

A escolha técnica traz um plano de sequência e posicionamento de câmera que pega desde grandes tomadas, até mínimas, com apresentações de detalhes que chamam muito a atenção. [aviso de spolier] Uma das cenas é quando Mercury vai se consultar no médico e a imagem do profissional é apenas refletida nos óculos do cantor. As escolhas que foram tomadas para este tipo de imagem traduz muito a poética que a direção quis passar. Já a recriação do momento mais grandioso do filme, que é a apresentação do Queen no Live Aid, é mesclada com efeitos exatos da plateia e até funde Malek e Mercury num trecho que potencializa a entrega do ator no papel.

Curiosidades

*Freddie é conhecido por ser amante de gatos, e os felinos têm até tempo de antena privilegiado, sendo vistos e ouvidos – em pleno ronronar;

*Sacha Baron Cohen, comediante britânico, havia sido escalado originalmente para interpretar Mercury. Mas depois de muitas críticas de fãs do Queen, e de Brian May, o ator abandonou a produção;

*Peter Morgan escreveu o roteiro original. Com a demora na produção do filme, o roteiro foi passado para Anthony McCarten;

*Malek revelou muitas brigas e desentendimentos com Singer, reclamando sobre o comportamento do cineasta com o estúdio e a falta de presença e responsabilidade. Singer que foi substituído após o envolvimento com escândalos sexuais;

*Malek foi apelidado pelos colegas de estúdio como “Freddie” por sua incrível interpretação;

*A previsão é de que o longa-metragem estrelado por Rami Malek arrecade R$ 30 milhões, apenas na América do Norte, em seu fim de semana de estreia;

Ficha Técnica

Título Bohemian Rhapsody (Original)
Ano produção 2018
Dirigido por Bryan Singer e Dexter Fletcher
Estreia
1 de Novembro de 2018 (Brasil)
Duração 134 minutos
Classificação  14 – Não recomendado para menores de 14 anos
Gênero
Biografia Drama Música
Países de Origem
Estados Unidos da América
Reino Unido da Grã-Bretanha e Irlanda do Norte

O filme estreia nesta quinta-feira, dia 01 de novembro.

Para saber mais sobre cinema, acesse aqui.

Post Author: Jaqueline Oliveira

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *