Eu não sou um Homem Fácil

“Eu Não Sou Um Homem Fácil”: Netflix acerta mais uma vez ao explorar diferenças entre gêneros de forma tragicômica

Imagine acordar um belo dia e perceber que a vida como você conhecia virou de ponta cabeça.

Essa é a premissa de “Eu Não Sou um Homem Fácil“, lançamento do Netflix que explora a cultura machista usando a comédia e o absurdo como recursos para estimular a reflexão sobre às injustiças às quais as mulheres são submetidas na cultura ocidental.

Em “Eu Não sou Um Homem Fácil”, nos deparamos com a história de Damien, interpretado por Vincent Elbaz como o puro estereótipo do womanizer, que se vê preso num universo no qual as mulheres são o gênero dominante: conseguem os melhores empregos, têm os maiores salários, são responsáveis pelo sustento das famílias e detêm a liderança das relações geopolíticas.

Consequentemente, esse giro nas relações de poder faz com que os homens, no papel de escolhidos e “escolhíveis” pelo gênero dominante, sejam os obcecados com aparências, contem calorias e sejam os responsáveis pela gestão do lar.

“Tô Rindo, mas é de nervoso”

Muito embora essa estereotipia possa soar ofensiva num primeiro momento, no decorrer do filme é possível notar que a caricaturização dos comportamentos de cada gênero tem um propósito nobre: chamar a atenção para os comportamentos muitas vezes absurdos que adotamos (e nós, mulheres, muitas vezes endossamos) sem nos darmos conta, bem como da importância de combatê-los em prol de uma vida mais igualitária e feliz.

O sofrimento do gênero dominante também é retratado em “Eu Não Sou um Homem Fácil“, embora de forma indireta e infinitamente mais discreta – a protagonista feminina que se encontra em posição dominante, vivida por Marie-Sophie Ferdane, muitas vezes aparece presa em seu papel social, não tendo a chance de expressar sua própria fragilidade nem de sair do pedestal de superioridade no qual ela própria se colocou. O preço pago para se manter no topo não é baixo

 

“Eu Não Sou um Homem Fácil”:  O Veredicto

O filme tem muito mérito ao conseguir transmitir de forma leve uma temática densa – é o tipo de filme que você pode assistir com o parceiro (a) capaz de gerar reflexão sem brigas. Em contrapartida, o enredo perde um pouco a originalidade pelo relacionamento clichê entre os protagonistas. Infelizmente é difícil acertar em todas as frentes.

Além disso, um ponto interessante da trama é que a sociedade com a mulher enquanto elemento dominante não é mostrada de forma idealizada ou utópica: você não vai ver um mundo cor de rosa no qual as pessoas são delicadas e sensíveis umas com as outras. Nesse sentido, nos deparamos com a realidade nua e crua de que o gênero dominante irá se aproveitar de sua posição privilegiada, muitas vezes sem nem ao menos se dar conta disso.

Tecnicamente, o filme é bastante bom pelo cuidado com que a nova sociedade nos é mostrada: os casais vistos na rua tendem a ser compostos por mulheres mais altas e homens menores, e até elementos como carros e salas de parto são mostrados de forma diferente, ficando muito claro que foram influenciados pelo pensamento multifacetado que caracteriza as mulheres.

Nota: 4,5

 

Post Author: Rê Schmidt

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