Lampadinha entrevista E.T.C. Mag

Entrevista com o produtor musical, Lampadinha

Um dos produtores musicais mais requisitados do país, Lampadinha, nos concedeu uma entrevista para falar mais sobre o mundo da música e a profissão

A música é algo que toca todo mundo. Desde o primeiro acorde e a primeira nota que o cantor atinge, todos têm uma reação. Há aquelas que amamos e que representam certos momentos de nossas vidas, há aquelas para os momentos tristes, outras para escutar e se imaginar na praia e outras para simplesmente esboçar um sorriso. Mas, o que não pensamos com tanta frequência quanto deveríamos é quem está por trás do trabalho de produção de uma música.

Diferente do que muitas pessoas possam imaginar, músicas não são feitas somente pelos músicos da banda. Apesar de serem – sempre – os personagens principais, eles não estão sozinhos e contam com a ajuda de produtores para lapidar suas músicas e álbuns de forma a conseguir captar o que os artistas têm de melhor e levar a qualidade do som para outro patamar apenas mexendo em coisas que, para muitos, seriam meros detalhes.

É exatamente com isso que o produtor, engenheiro de mixagem e masterização, Lampadinha, trabalha. Com mais de trinta anos de carreira e vinte desde o seu primeiro trabalho como produtor, ele já produziu grandes nomes da música nacional, como Charlie Brown Jr, Gabriel O Pensador, Urbana Legion, Raimundo, CPM 22, Ira!, entre muitos outros. Além disso, ele coleciona cinco Grammy Awards pelos seus trabalhos nos álbuns “Éter” da banda Scalene; “Sacos Plásticos” do Titãs; “Agora” da banda NX Zero; “Cidade Cinza” do CPM 22; e “Tamo aí na atividade” do Charlie Brown Jr.

LampadinhaAgora, Lampadinha conta um pouco mais sobre sua carreira, sobre a profissão, novos desafios para o produtor que agora vive nos Estados Unidos, a indústria musical, além de comentar sobre a cena independente:

E.T.C.: O produtor tem um papel importantíssimo na produção de um som comercial e muitas bandas necessitam adaptar-se. Existe resistência de alguns artistas? Se sim, como você contorna a situação?

L: Jamais faço algo que o artista não queira. Ninguém conhece melhor a sua música e a sua arte que o próprio artista. Sempre procuro respeitar o que ele tem em mente e potencializar isso ao máximo. A partir disso, vamos deixar o melhor possível a música para que, posteriormente, ele mesmo possa se surpreender ao ouvi-la pronta. ​

E.T.C.: A cena independente tem ganhado cada vez mais destaque e, com isso, algumas gravadoras e selos especializados surgiram. Você acha que a gravadora ainda é algo essencial para alcançar o sucesso?

L: Para alcançar o sucesso o artista precisa se profissionalizar, precisar cuidar da carreira como uma empresa, foi-se o tempo em que um artista era contratado por uma gravadora e estava com a vida feita. Se não correr junto não acontece. Essa visão profissional é fundamental para que um artista consiga um lugar de destaque, o sucesso é consequência.

E.T.C.: Você trabalhou por 12 anos no Midas do Rick Bonadio, o que você acredita que essa experiência mais trouxe para a sua carreira?

L: Foi incrível! Quando cheguei ao Midas eu já tinha mais de dez anos de estrada e já havia trabalhado com muitos artistas nacionais e internacionais. Essa experiência só acrescentou coisas boas em minha vida, na minha experiência, em oportunidades de receber vários prêmios e conhecer muitos profissionais e artistas que se tornaram meus amigos até hoje. A visão empresarial do Rick Bonadio, o lado artístico do Paulo Anhaia, as sutilezas ao trabalhar com o Rodrigo Castanho, tudo isso somou – e muito – na minha carreira e na minha vida.

E.T.C.: Ainda sobre o destaque da cena independente. Você também já chegou a comentar que bandas e artistas podem – ouso dizer que até deveriam – apostar nos estilos quando ele não está na crista, pois quando eles pegam um ritmo que está no pico, ele pega o declínio dele. Com isso, como você enxerga o rock daqui alguns anos? Acha que ele está tendendo para subir de novo?

L: Sem dúvida. Embora o rock não seja (e nunca foi) o estilo predominante no Brasil, ele terá novamente o seu lugar de destaque, é só uma questão de tempo. ​

E.T.C.: Você disse em entrevista para a Granja News, sobre os modelos de pagamento mensal das plataformas de streaming. A porcentagem de ganho que você vê no Spotify e na Apple Music (depois das reclamações da Taylor Swift para que os músicos fossem pagos), é um cenário ideal ou ainda tem que melhorar para os artistas?

L: Continua tudo muito parecido com antes. Quem tem mais dinheiro para marketing aparece mais. Qualquer um pode e deve colocar a sua música para streaming, a diferença é que colocar a sua música online e não trabalhar o marketing, faz com que quase ninguém saiba que ela está lá. Já o artista grande – com ou sem gravadora – trabalhando e investindo nisso, terá um alcance muito maior, fazendo com que mais pessoas saibam que a sua música está online e fazendo o seu rendimento aumentar. ​

E.T.C.: Qual é a maior diferença entre o modo de trabalho na sua área nos EUA e no Brasil?

L: Deixando de lado as diferenças culturais e financeiras, o respeito pela música, pelo músico e pelo profissional da música é muito diferente, é algo cultural muito forte. Todo mundo aprende música na escola. O policial que te para na rua numa blitz já tocou algum instrumento na escola, então ele não irá te abordar de forma diferente quando você diz que é músico. A maior diferença, para mim, é o respeito com o profissional da música.

E.T.C.: Você já trabalhou pegando várias fases do LP, fita, CD, MP3, digital. Como você encarou essas mudanças? Como produtor, é preciso mudar algo em seu trabalho para se adaptar a cada formato? E destes, qual é o seu formato favorito?

L: A adaptação é constante e são filosofias de trabalho diferentes. Quando se produz um projeto em fita é bem diferente de quando trabalhamos 100% no digital. Para mim, trabalhar hoje em ambiente digital é um enorme adianto de tempo, praticidade e resultado, isso é inegável! Por isso é uma tendência mundial.

E.T.C.: O que você prefere produzir um disco desde o começo ou participar apenas da finalização?

L: Desde o começo produzindo sem dúvida, pois assim você tem a possibilidade de chegar exatamente onde quer em termos de resultado artístico e técnico. Mas gosto muito de mixar/masterizar projetos de artistas que me convidam exclusivamente para isso.​

E.T.C.: Você ganhou ​cinco Grammys e é reconhecido em vários países pelo seu trabalho, o que você diria para o Lampadinha lá no começo da sua carreira?

L: Não parece, mas vai fundo que vai dar certo.​

E.T.C.: O que você pode dizer sobre cada trabalho que te trouxe um Grammy?

L: Todos são muito especiais. Desde o primeiro com o Charlie Brown Jr, até o mais recente com a Scalene. Lembro como se fosse hoje quando os caras do Charlie Brown Jr. chegaram com a música “Zóio de Lula” para gravar lá no Midas. Quando ouvi a banda tocando no estúdio com o Rick, olhamos um para o outro e já sabíamos que ia ser um hit. A mesma coisa aconteceu com a Scalene quando eles foram até meu estúdio e me mostraram as músicas. Ficou muito claro para mim que aqueles caras eram especiais.

E.T.C.:  O que você aconselha para quem quer trabalhar nessa área? (Converse, tome umas cervejas e coma porções de batatas antes de começar o trabalho?)

L: SIM! Isso é super importante também e faz muita diferença. Sempre que possível saio com o artista antes de trabalhar, bater papo, tomar uma cerveja e falar da vida é muito importante para o relacionamento que vai começar, seja na vida pessoal, quanto profissional. Mas com relação a conselhos, não tem muito como não fugir do óbvio: acredite, não desista, trabalhe com amor que o resultado vem. A internet tem uma infinidade de informações e quanto mais [conhecimento] melhor. Estudar e trabalhar com amor é a base para tudo!

Essa entrevista foi escrita originalmente para a revista E.T.C. Mag de Junho

Post Author: Bruna de Oliveira

2 thoughts on “Entrevista com o produtor musical, Lampadinha

    José

    (30 de setembro de 2017 - 00:28)

    Gostei muito do conteúdo e fico no aguardo dos próximos.

      Bruna de Oliveira

      (30 de setembro de 2017 - 14:53)

      Oi, José!

      Muito obrigada! Estamos planejando muitos conteúdos nessa linha para o nosso canal no YouTube, fique de olho por aqui para novidades.

      Beijos.

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