Do alto do Edifício Martinelli

Primeiro arranha-céu de São Paulo foi projetado para ter apenas 12 andares, mas atingiu o trigésimo e até hoje tira o fôlego de muitos com sua vista 360º

São Paulo tem alguns prédios que são ícones. E com quase 100 anos, o Edifício Martinelli, localizado bem no centro da cidade, é um deles. Sua entrada principal, que se dá através da Av. São João, é estreita e quase se esconde em meio às lojas ao redor. É que ele nunca precisou de grandes portões para ser notado. Mesmo no centro que hoje é velho, sua grandiosidade não passa despercebida.

Já nos primeiros passos dentro do edifício, é possível notar a riqueza de detalhes que ele ostenta. O corredor de acesso, com lustres pesados, mas ainda assim escuro, é só um dos detalhes que instiga ainda mais a curiosidade dos visitantes, os fazendo imaginar quantas vidas e histórias aconteceram ali desde a sua inauguração, em 1929.

Se o Edifício Martinelli falasse…

Ouviríamos quase um século de histórias! Das mais luxuosas às mais humilhantes, de vidas, mas de mortes também. Isso porque, o edifício que hoje é palco de visitações turísticas, já foi (em 1929) a casa do comendador italiano Giuseppe Martinelli (que ergueu e deu nome à construção), mas também (na década de 70) moradia para muitas prostitutas, deixando o luxo de lado para dar lugar, literalmente, ao lixo.

A mudança do público que frequentava o Edifício Martinellli, transformou também o seu ambiente. Os vidros, papéis de parede e espelhos belgas, os elevadores suíços, os 40 quilômetros de molduras de gesso em arabescos e todo o rico acabamento que antes era destinado à mais alta classe paulistana, passou a ser usado por famílias de baixa renda da capital, que o deteriorou devido ao mau uso.

O cine Rosário, um dos mais luxuosos da época, fechou. Assim como o Hotel São Bento e os salões Verde e Mourisco, responsáveis por agitar as noites da alta sociedade. No lugar deles, o Martinelli passou a abrigar assassinatos, danceterias, prostíbulos, bares e tudo de ruim que já existia. Com isso, os traços de arquitetura francesa foram tomados por lixo, (jogados nos poços de ventilação, onde atingiram a altura do 6º andar), a iluminação ganhou a clandestinidade e os elevadores (vindos da Suíça) ganharam um descanso não merecido, pararam!

Após presenciar de um tudo, e abrigar de todos, a grandeza do Edifício Martinelli finalmente tocou um prefeito, o recém-eleito Olavo Setúbal, que resolveu salvar o que ainda restava do primeiro arranha-céu da cidade de São Paulo. Desde 1979, depois da desapropriação e da restauração, o prédio tornou-se de uso comercial. Lá trabalham funcionário de algumas das secretarias municipais, como a Cohab e a SP Urbanismo. O Martinelli deixou de ser casa, mas ainda tem seu glamour e costumar ser muito utilizado para eventos.

Mas como ele não fala…

É possível ver! Ao subir ao 25º andar, com elevadores que já não são os mesmo, a cidade se apresenta à sua frente, em uma visão 360º. Lá do alto, os detalhes da arquitetura ficam mais à mostra, e servem como verdadeiras molduras para uma São Paulo repleta de outros arranha-céus, que se perdem nos olhos.

Curiosidades

O edifício tem 1.200 metros de área livre, 1.267 dependências e, diante de tal tamanho, tem muitas histórias e mistérios também. Há relatos de mortes horríveis, de pessoas que pularam ou foram jogadas do alto do prédio e que, devido à ausência de provas, ainda deixam a dúvida: foi assassinato ou suicídio?

Alguns casos são ligados repetidamente ao 17º andar, onde também funcionou uma igreja, mas como as incertezas eram muitas e as evidências poucas, os crimes foram arquivados, ficando apenas boatos de assombrações que batem portas, sobem e descem nos elevadores, e que rondam até hoje o majestoso Edifício Martinelli.

Quer conferir?

As visitas abertas ao público são monitoradas, gratuitas, e acontecem de segunda à sexta-feira, das 9h30 às 11h30 na parte da manhã, e das 14h às 16h de tarde. Para grupos acima de 15 pessoas, é necessário fazer agendamento pelo site do Edifício.

Post Author: Thais Brazil

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